Black Friday

A Black Friday no Brasil começa em setembro

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Novembro brasileiro é azul da campanha de prevenção ao câncer de próstata. É, igualmente, o mês do feriado da Proclamação da República — muita gente nem se lembra porquê. E, desde 2010, o novembro brasileiro também é Black Friday.

Quase ofuscada pela semideclaração de guerra contra os americanos, pelas eleições municipais, e pelo onipresente novo coronavírus, a “black” deste ano vai medir a baixa temperatura das compras e a fraca disposição dos brasileiros em gastar. 

Poderia falar que o brasileiro está indisposto a aglomerar, mas isso não é verdade! O brasileiro está aglomerando sem medo do amanhã; o temor é outro: da falta do crédito e da falta do dinheiro! 

Consumidores desanimados

A Black Friday, ansiosamente esperada pelo varejo, figura, de pouco tempo pra cá, como uma das mais importantes do comércio no país. Neste ano em que as lojas físicas ficaram fechadas no Dia das Mães e no Dia dos Namorados, a “black” vem acompanhada de uma enorme expectativa por quem vende e de um grande descaso por quem, “supostamente”, deveria comprar. 

De acordo com alguns varejistas, as vendas do e-commerce, que vinham em uma crescente desde o começo do isolamento, aumentaram somente 10% em relação ao ano passado. Mas as vendas nas lojas físicas estão se arrastando, o que é o prenúncio da morte lenta e anúncio de que muita coisa vai mudar no varejo de 2021. 

Conforme as mesmas fontes, o eletrônico — sempre o item mais desejado — vai ficar na prateleira por causa do preço do dólar. A “black” de 2020 será de sofás e itens domésticos.

O fenômeno é inversamente proporcional ao “dia dos solteiros” na China, que, no último 11/11, movimentou mais de 50 bilhões de dólares, de acordo com o site de compras Alibabá

Essa data concentra as grandes promoções no irmão asiático, e o número das vendas demonstra que ele, o irmão, está se recuperando bem da crise sanitária mundial. O mesmo não acontece com o resto do mundo, principalmente o mundo em que não existe um projeto econômico e no qual as manchetes do dia se revezam em testar vacina e não testar vacina.

Pesquisas antecipadas

Com o percentual ínfimo de crescimento do varejo no Brasil, a “black”, para quem espera a data para realmente adquirir bens, começou já no final de setembro e teve outubro como marco inicial. Explico: o consumidor da “black” foi criado em ambiente digital — a promoção, nos seus primeiros anos, não alcançava as lojas físicas e era voltada para o comércio virtual — e esse tipo de consumidor, já antenado, segue um ritual de preparação que antecede a finalização da compra. 

Para comprar, esse consumidor começou a pesquisar em setembro. Começou a averiguar a lisura dos preços e das lojas, para não cair, como o próprio brasileiro apelidou, na “Black Fraude” tupiniquim.

Inúmeras pesquisas, tanto de órgãos voltados para a defesa do consumidor, quanto dos próprios internautas que divulgam sem dó, comprovam a má fé de muitos comerciantes, que oferecem desconto de 50% em produtos que dobraram de preço antes da promoção. 

Esse comportamento é um espelho de como nossos varejistas se relacionam mal com sua clientela e do quanto estão despreparados para manter viva a sua galinha de ovos de ouro. Reflexo da ausência de profissionalização do segmento e razão das pesquisas antecipadas. 

Nessa seara, antecedendo a grande data, vários Procons analisam o comportamento dos preços já no final de setembro, não só para coibir, mas também para multar. E, embora a torcida seja grande e o abuso dos fornecedores evidente, as multas também deixam a desejar.  Parando para pensar: um dia de promoção no Brasil custa meses de estratégias de proteção para o consumidor. Por isso, por aqui, a Black Friday tem que começar em setembro. Imagine se não fosse…

Leia outro artigo de Renata Abalém:
https://spacemoney.com.br/pix-o-novo-cavalo-de-troia/