Por Nayara Figueiredo, da Reuters – As manifestações de caminhoneiros em estradas nesta semana se traduziram em custos maiores para a Seara, que começou a ver menor disponibilidade de ração para aves e suínos e redução nos veículos que transportam os insumos, disse nesta quinta-feira (9) um executivo da empresa.
"Sim, impacta sim, você tem custos (maiores)… Ainda em proporções pequenas ante 2018, mas já está impactando", disse o gerente Nacional de Originação de Grãos na Seara, Valdecir Martins, durante webinar promovido pela associação da indústria de trigo Abitrigo.
O movimento ocorre "em um mercado que já vem muito pressionado pelo custo", disse ele, na esteira de uma quebra na segunda safra de milho, principal grão utilizado na ração e que passou a ser substituído muitas vezes pelo trigo.
Martins também afirmou que a principal preocupação é sanitária, para que não falte alimento aos animais –como ocorreu na última grande greve de caminhoneiros, em 2018.
Na mesma linha, o trader de commodity na Gavilon Pedro Sampaio concordou que os protestos de caminhoneiros estão trazendo alguns impactos ao mercado de trigo.
Os atos ocorrem após manifestações nacionais de 7 de Setembro. Segundo informações da Polícia Rodoviária Federal (PRF), caminhoneiros apoiam o presidente Jair Bolsonaro em pautas contra ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).
Na tarde desta quinta-feira, o Ministério de Infraestrutura disse em nota, com base em informações da PRF, que existiam pontos de concentração em rodovias federais de 13 Estados, mas não havia registro de interdições na malha rodoviária nacional.
A pasta ressaltou que Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná concentravam mais da metade das ocorrências registradas no início da tarde.
A região Sul é justamente a principal produtora de aves e suínos, que conta com indústrias de processamentos de carnes das maiores empresas do setor, com a Seara, controlada pela JBS (SA:JBSS3).
Trigo na ração
O gerente da Seara disse que o trigo é utilizado como alimentação animal em dois momentos: quando o preço do milho sobe muito (como na safra atual) ou quando a qualidade do trigo é baixa para panificação.
Segundo ele, neste ano, o movimento de preços do trigo foi amplamente puxado pelo milho, em função da correlação desses cereais enquanto matérias-primas de ração.
"De maneira geral, o trigo na alimentação animal é um produto alternativo… União Europeia, China e Rússia são os grandes consumidores de trigo na alimentação animal", afirmou Martins.
O trader da Gavilon pontuou que, diante de quebras na safra do Paraná em função de problemas climáticos, o trigo gaúcho será muito concorrido no período de colheita.
"Vamos ver qual vai ser o balizador de preços do cereal: a exportação, o mercado de ração ou os outros moinhos", disse ele.
Dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) divulgados mais cedo indicam que a produção de trigo no país deve alcançar 8,16 milhões de toneladas, 30,8% superior ao registrado no ano anterior, quando a temporada foi marcada por danos climáticos ainda maiores e uma quebra de safra.