Expectativas

Selic deve continuar em 13,75% a.a., segundo analistas. O que esperar dos discursos e onde investir?

Veja as considerações de Felipe Miranda, CEO do Grupo Empiricus, e Felipe Steiman, gerente comercial da B&T Câmbio

- Antônio Cruz/Agência Brasil
- Antônio Cruz/Agência Brasil

A reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) possivelmente marca o fim do ciclo de alta da taxa básica de juros Selic, diz Felipe Miranda, CEO do Grupo Empiricus.

“Estamos mais inclinados à manutenção da taxa, com queda somente para o segundo semestre de 2023. A manutenção vem acompanhada de um discurso duro, principalmente para tirar esse início de umas apostas que vieram sendo feitas na curva de juros de uma queda da Selic a partir do começo do ano que vem”, estima o executivo.

O mercado, porém, está dividido: existe uma expectativa predominante da manutenção de 13,75% e uma aposta minoritária de uma alta adicional de 0,25%, depois que o presidente do BC, Roberto Campos Neto, deixou a porta aberta em seus últimos discursos.

Anbima

Para a maior parte dos economistas da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), o processo de desinflação já foi iniciado, o que permite ao BC interromper o ciclo de alta da Selic.

O grupo revisou a projeção da inflação para este ano de 7,2% para 6%. Os riscos inflacionários, porém, continuam relevantes, sobretudo para 2023.

Isso porque, conforme destacam os economistas, há a possibilidade de aumentos de impostos diante da situação fiscal, de elevação nos preços do petróleo devido aos efeitos da guerra na Ucrânia, além de uma desvalorização da taxa de câmbio em função da alta dos juros nos Estados Unidos.

Uma potencial recuperação do PIB doméstico também poderia gerar pressões pontuais nos preços e estímulos à atividade doméstica.

O cenário externo, por sua vez, traz incertezas que favorecem um ambiente de maior aversão ao risco, o que pode comprometer o fluxo de recursos para os mercados emergentes.

A sinalização do Fed em colocar os juros no campo restritivo aumentou as chances de que a taxa final do ciclo de alta dos juros americanos ultrapasse o patamar de 4%, o que pode levar a economia para um quadro de recessão nos próximos trimestres.

Em relação à atividade econômica doméstica, os economistas revisaram a mediana da projeção de crescimento do PIB para este ano de 2% para 2,7%. O aumento deve-se, entre outros fatores, à melhora no resultado do PIB do segundo trimestre puxado pelo setor de serviços que, por ter bastante mão de obra, contribui para a redução na taxa de desemprego.

Atenção aos recados

Felipe Steiman, gerente comercial da B&T Câmbio, relembra que devemos prestar atenção aos discursos tanto do Banco Central, quanto do Federal Reserve nesta Super Quarta.

“Caso o Fed venha com o improvável aumento de 100bps ao invés de 75bps, vai surpreender o mercado e pode puxar o dólar para cima. Além disso, temos que ficar atentos à postura do Fed em seu comunicado. Com relação ao cenário doméstico, um comunicado duro do BC pode também impactar o mercado”, diz o especialista, que espera que a taxa Selic continue em 13,75% ao ano.

E onde investir?

“Em termos de investimentos, gosto do pós-fixado, eu gosto do Tesouro Selic”, confessa Miranda. 

“Parece que queremos sofisticar muito, pegar a dica do cunhado, a ação que ninguém conhece ou a criptomoeda do momento… Mas na verdade 13,75% é alto, com liquidez diária, sem risco e sem o investidor precisar fazer muita coisa”, complementa. 

O CEO diz gostar do pré-meio da curva porque a inflação implícita está acima de 5% e não aposta que a mesma seja maior do que 5% por vários anos. Portanto, haveria uma boa indicação ali no “pré-meio da curva, 2026, 2025”.

Miranda diz gostar da curva bem mais longa, do Tesouro IPCA, 2050, que está muito associado ao risco fiscal, ao risco de ruptura institucional, que a Empiricus avalia que está endereçado com um governo de centro, seja lá qual for o governante.