Competitividade Brasil
Se o Brasil fosse um time em um campeonato no qual os dois últimos colocados fossem rebaixados para uma divisão inferior, era exatamente isso o que teria ocorrido no final de julho, quando a Confederação Nacional da Indústria (CNI) divulgou o relatório Competitividade Brasil 2019-2020.
O estudo compara a economia nacional, em 61 variáveis, com a de 17 nações com características similares às brasileiras. O resultado coloca o Brasil na penúltima posição, à frente apenas da Argentina.
Para aqueles que não se contentam em ficar à frente apenas dos “hermanos”, trata-se de um desempenho preocupante, principalmente porque não é uma situação nova.
Na verdade, o Brasil disputa a lanterna dessa competição com os argentinos há dez anos. As primeiras posições desse ranking ficam com a Coréia do Sul, o Canadá e a Austrália, respectivamente.
É preciso identificar as causas dessa situação e começar o quanto antes a escalar rumo ao topo.
O estudo da CNI deixa claro que o ponto vulnerável da defesa, ou a razão da ineficiência do ataque brasileiro no jogo da competitividade, é o setor de crédito.
A pesquisa revela que o Brasil é o país com o pior desempenho no ranking do fator “Financiamento”. A nota brasileira é 2,22 num quesito cuja avaliação máxima de desempenho é igual a dez.
Mergulhando um pouco mais nessa deficiência, é possível notar que, em duas das três dimensões avaliadas em torno do financiamento, o Brasil não teve uma performance tão negativa. Foram elas: disponibilidade de capital e desempenho do sistema financeiro. No entanto, o custo do capital no Brasil é muito superior ao custo nos demais países.
2018
Em 2018, a economia brasileira apresentou a mais alta taxa de juros real de curto prazo (8,8%) e o maior spread da taxa de juros (32,2%). Entre os 18 países selecionados, a Rússia apresentou a segunda maior taxa de juros real de curto prazo (5,2%) e o Peru o segundo maior spread da taxa de juros (11,9%), quase três vezes menor que o indicador brasileiro.
Portanto, o verdadeiro vilão é o custo elevado para a tomada de crédito. Algumas iniciativas nesse sentido já até foram tomadas, como a criação do cadastro positivo. Mas isso ainda levará um tempo para mostrar seus efeitos completos.
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Podemos também culpar, além da assimetria de informações, a alta concentração do sistema financeiro no Brasil. Aqui há movimentos importantes, como as SCD’s e SCE’s, o Open Banking e a queda da taxa básica (injetando mais liquidez no mercado). Mas a tarefa também não é fácil para os insurgentes.
Dessa forma, a esperança recai sobre a utilização das novas tecnologias que têm se mostrado ferramentas úteis e capazes de ajudar nesse processo de escalada. Uma de suas maiores contribuições reside no fato de que elas permitem uma maior flexibilização nas regras de concessão de crédito, já que apontam condições positivas a uma parcela da população e até de empresas que normalmente não são identificadas com os mesmos bons olhos pelos birôs tradicionais de crédito.
Novos consumidores
Graças ao cruzamento de informações públicas e georeferências, soluções que fazem uso de Big Data e Machine Learning conseguem refinar a análise de risco. Isso pode mudar a forma de aprovação de crédito tanto para quem já estava no sistema bancário como para os desbancarizados.
Assim, as novas tecnologias podem inserir milhões de novos consumidores no mercado, ampliar as vendas e gerar empregos. Lojistas também podem, com base nos produtos comprados, identificar quais consumidores estão propensos a aceitar um cartão de crédito.
Ao oferecerem uma análise de crédito mais completa e, portanto, mais segura, o sistema financeiro pode trabalhar com juros variáveis, personalizados, em vez das taxas homogêneas definidas por tipo de empréstimo ou linha de crédito que vem praticando há décadas.
Só para exemplificar, na China, um dos concorrentes que estão bem à frente do Brasil na tabela de classificação do campeonato da competitividade, a fintech MYbank, usando 3 mil variáveis para analisar risco de crédito, emprestou US$ 290 bilhões a 16 milhões de pequenas empresas em 4 anos, num processo que leva 3 minutos, tem 1% de inadimplência e nenhum humano tomando decisões.
Esse é o tipo de estratégia que os líderes da tabela estão jogando. Para disputar com eles as primeiras colocações, o Brasil precisa acelerar nessa direção. Ao fazer isso, o crédito servirá como uma alavanca impulsionando o país rumo ao pico dessa montanha.