Os mercados financeiros brasileiros devem continuar atentos nesta semana às agendas política e econômica. Na agenda política, a expectativa é com novos desdobramentos da proposta de reforma da Previdência e as articulações no Congresso para garantir apoio para aprovação do texto. O vazamento de uma minuta na semana passada acabou tumultuando um pouco o processo, pois trouxe uma proposta de ajuste previdenciário mais duro que o esperado e agradou os mercados, mas foi logo desmentida pelo governo, que deixou claro que a palavra final será do presidente Jair Bolsonaro. Este, por sua vez, continua internado no Hospital Albert Einstein, se recuperando da cirurgia de reconstrução do intestino, o que trava todo o processo de reforma. A preocupação dos investidores aumentou na semana passada, com a notícia de que o presidente estava com pneumonia e precisaria ficar mais tempo no hospital, adiando a saída prevista para esta segunda-feira.
Bolsonaro melhora e cobra ação da PF contra “mandantes”
Hoje, em novo boletim médico, foi reforçada a restrição às visitas, o que significa que o presidente não poderá ficar despachando até se recuperar mais. Mas, segundo o hospital, o presidente melhorou e não tem mais febre. O quadro pulmonar apresenta melhora significativa e prossegue com os mesmos antibióticos, diz a nota. Hoje também Bolsonaro começou a redução gradativa da nutrição parenteral e mantém a dieta cremosa associada ao suplemento nutricional especializado por via oral. E segue realizando exercícios respiratórios e de fortalecimento muscular, alternados a períodos de caminhada. No Tweeter, Bolsonaro gravou um vídeo cobrando da Polícia Federal a apuração de quem teriam sidos os “mandantes” do atentado que sofreu.
Paulo Guedes, Onyx e Congresso
Com Bolsonaro e o projeto de Previdência no estaleiro, os mercados vão acompanhar novas indicações do ministro da Economia, Paulo Guedes, sobre medidas de ajuste fiscal e privatização. No Congresso, as atenções estarão sobre os líderes dos partidos da aliança do governo e com as articulações do ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, preparando o terreno para o projeto da Previdência. “O mercado tem pressa”, resume o Banco Fator, em relatório.
Na Câmara, terrorismo e imóveis do INSS para o Tesouro
Na Câmara, estão previstas as votações de três medidas provisórias e o projeto (PL 10431/18) que determina o cumprimento imediato, pelo Brasil, de sanções impostas pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas relacionadas ao crime de terrorismo, principalmente o bloqueio de ativos. A legislação brasileira já possui norma para atender a essas sanções (Lei 13.170/15), mas prevê a necessidade de ação judicial para fazer esse bloqueio, o que foi criticado pelo Conselho de Segurança da ONU devido à demora.
Já a Medida Provisória 852/18 trata de várias questões relacionadas a bens imóveis da União, como a transferência ao Tesouro Nacional daqueles em poder do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), da permissão para venda de imóveis da extinta Rede Ferroviária Federal (RFFSA) e da cessão daqueles ocupados por entidades esportivas antes da atual Constituição federal.
Quanto aos imóveis do INSS, a MP propõe a transferência sem pagamento a título de diminuição dos débitos do Fundo do Regime Geral de Previdência Social (FRGPS) com o Tesouro. As propriedades poderão ser usadas para venda, criação de fundos imobiliários, utilização por outros órgãos do governo a fim de reduzir despesas com aluguéis e doação a estados e municípios.
A terceira medida provisória pautada é a MP 853/18, que reabre o prazo de adesão ao fundo de pensão dos servidores públicos federais até 29 de março de 2019.
Já a MP 850/18 autoriza o Instituto Brasileiro de Museus (Ibram) a criar uma fundação privada para arrecadar e gerir recursos a serem aplicados nos museus brasileiros.
Ata do Copom e prévia do IGP-M
Na agenda econômica, o destaque será a ata da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) na semana passada. A divulgação será na terça-feira, e pode trazer novas pistas sobre as visões do Banco Central sobre a tendência das taxas de juros. O mercado se divide entre os que apostam na manutenção da taxa básica em 6,5% e os que acreditam em novas reduções, até 5,75% ao ano.
Na segunda-feira, sai a primeira prévia do IGP-M de fevereiro, que deve acelerar para 0,44% de alta, depois de ficar praticamente estável, em 0,03% em janeiro. O mercado acompanha na segunda-feira também as projeções do mercado para juros, dólar, inflação e PIB coletadas pelo Banco Central no Relatório Focus.
Dados devem confirmar atividade fraca no fim de 2018
Haverá ainda a divulgação de indicadores de atividade relativos ao fim do ano passado. O desempenho da atividade decepcionou no fim de 2018, podendo encerrá-lo com resultados abaixo do esperado em muitos setores, observa o Banco Fator. Contudo, a fraca recuperação da economia há tempos não desperta a atenção, ou preocupação, dos mercados. Os destaques são: vendas do varejo, desempenho dos serviços e o mais importante, o índice de atividade do Banco Central, o IBC-Br , todos de dezembro. Durante a semana, saem também os dados de emprego formal do Caged de janeiro
Para o Bradesco, as atenções estarão voltadas para a divulgação da Ata do Copom. Após um comunicado sem grandes mudanças em relação ao anterior, a Ata poderá trazer maior detalhamento sobre o balanço de riscos para inflação.
IBC-Br
No caso dos indicadores de atividade o Bradesco espera estabilidade do volume de serviços em dezembro e queda de 0,5% da receita real das vendas do comércio varejista restrito em relação ao mês de novembro, devolvendo parte da alta verificada no mês anterior. O banco projeta alta de 0,2% do IBC-Br (proxy mensal do PIB ) no período. Se confirmados, esses resultados são compatíveis com um ritmo gradual de recuperação da economia em 2018, mas, para este ano, o banco espera aceleração do ritmo da retomada.
PIB da Europa e Japão
Na agenda internacional, a divulgação dos resultados do PIB do quarto trimestre do Reino Unido, Área do Euro e Japão serão os destaques. Embora ainda referentes a 2018, os indicadores deverão reforçar a visão de desaceleração da economia global, que, segundo os indicadores antecedentes já divulgados, se estenderá pelo primeiro trimestre deste ano, destaca o Bradesco.
Também será conhecido o resultado da balança comercial chinesa de janeiro, uma das primeiras informações acerca da atividade da China em 2019.
Por fim, será divulgada a sondagem empresarial do setor manufatureiro de Nova York (Empire Manufacturing Survey) referente a fevereiro, devendo fornecer novas indicações acerca do desempenho da atividade econômica dos EUA.
Orçamento dos EUA e guerra comercial
Além dos indicadores econômicos, nos EUA, o mercado vai acompanhar a discussão sobre o Orçamento Federal, e o impasse entre o presidente Donald Trump e a oposição democrata. A liberação provisória do orçamento nos EUA expira na sexta-feira, o que deve fazer com que as negociações em torno do tema sejam o foco das atenções, diz a equipe econômica do Banco Votorantim. As negociações comerciais também serão importantes, com a visita de representantes americanos à China.
Balanços do BB, Rumo, Duratex, Cosan, Smiles, Usiminas e outros
No mercado, continua a safra de balanços do quarto trimestre. Na segunda-feira, estão previstos os balanços da Comgás, da BB Seguridade e São Martinho, após o fechamento.
Na terça-feira, Banrisul anuncia seus dados antes da abertura dos mercados e Biosev, depois do fechamento. Rumo e Indústrias Romi também anunciam seus números, mas sem horário previsto.
Na quarta-feira, Duratex antes e Totvs depois do pregão apresentam seus dados. Na quinta-feira, Banco do Brasil e Grendene anunciam seus balanços após o fechamento do mercado. Sem horário previsto, saem também os dados da Cosan e da Smiles.
Na sexta-feira, JHSF e Usiminas divulgam seus balanços antes da abertura. Depois do fechamento, saem dados da Alpargatas.
Bolsa patina e se afasta dos 100 mil
A semana que passou marcou a volta do pessimismo no mercado internacional, em razão das incertezas quanto aos desdobramentos da guerra comercial entre China e EUA e pelas perspectivas negativas quanto ao crescimento da Zona do Euro. Apesar da valorização no pregão de sexta-feira, de 1%, o Ibovespa encerrou a semana com perdas de 2,6%, oriundas da mais elevada cautela dos investidores em relação às dificuldades a serem enfrentadas pela agenda de reformas, bem como pela queda das ações da Vale na semana, ainda refletindo o desastre humanitário e ambiental de Brumadinho, observa o BB Investimentos.
Além disso, o mercado também ficou atento à saúde do presidente Bolsonaro. No mercado de câmbio, o dólar subiu pela terceira sessão seguida, atingindo a cotação de R$ 3,72 e alta de 1,91% no mês, reduzindo a queda no ano para 3,79%. Já os juros futuros subiram, principalmente nos vencimentos de médio e longo prazos.
O Ibovespa fechou a semana em 95.343 pontos, acumulando uma queda de -2,11% no mês, uma alta de +8,48% no ano e 16,94% em 12 meses. Até dia 6 de fevereiro, houve retirada líquida de capital estrangeiro de R$ 367 milhões no mês, diminuindo o saldo positivo do ano para R$ 2,1 bilhões.
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