Caso transplantes

Sócio de laboratório envolvido em laudos falsos que resultaram em transplantes com HIV é preso

Operação busca cumprir quatro mandados de prisão e 11 de busca e apreensão

-
-

Walter Vieira, sócio do laboratório de análises clínicas PCS Lab Saleme, foi preso na manhã desta segunda-feira, apontado como um dos responsáveis pela emissão de laudos fraudulentos que resultaram no transplante de seis órgãos contaminados com HIV.

A operação, batizada de “Verum”, foi conduzida pela Delegacia do Consumidor (Decon) e visa cumprir quatro mandados de prisão e 11 de busca e apreensão em Nova Iguaçu e no Rio de Janeiro.

As investigações indicam que os laudos falsificados pelo laboratório foram utilizados pelas equipes médicas, levando os profissionais ao erro, o que acabou por contaminar pacientes com o vírus HIV.

Até o momento, sabe-se que um dos pacientes faleceu, mas as causas exatas da morte ainda estão sendo apuradas.

Além dos transplantes de órgãos, há suspeitas de que o laboratório tenha emitido laudos falsos em outros casos. A Polícia Civil segue com diligências para identificar a extensão da fraude e todos os envolvidos no esquema.

Prisões e envolvimentos

Entre os suspeitos de participação no esquema estão, além de Walter Vieira, Jacquelina Iris Barcellar de Assis, Cleber de Oliveira Santos e Ivanildo Fernandes dos Santos, que também tiveram suas prisões decretadas por cinco dias.

Os envolvidos são investigados por crimes contra as relações de consumo, associação criminosa, falsidade ideológica, falsificação de documento particular e infração sanitária, entre outros.

O laboratório PCS Lab Saleme era responsável pelos exames de análises clínicas da Central Estadual de Transplantes, além de atuar em outras 12 unidades de saúde estaduais, como hospitais, institutos e UPAs.

Relação com ex-secretário de Saúde

Walter Vieira tem laços familiares com o ex-secretário de Saúde e deputado federal Luiz Antônio de Souza Teixeira Júnior, conhecido como Doutor Luizinho (PP).

Vieira é casado com a tia do parlamentar, e outro sócio do laboratório, Matheus Sales Teixeira Bandoli Vieira, é primo do deputado.

O laboratório foi contratado pela Fundação Saúde três meses após Doutor Luizinho deixar a Secretaria de Saúde, o que levantou suspeitas e gerou uma investigação do Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) para verificar possíveis irregularidades no contrato.

Defesa de Jacqueline Iris Barcellar

Jacqueline Iris Barcellar de Assis, uma das envolvidas e com mandado de prisão decretado, teve seu nome ligado ao caso por conta da assinatura em um dos laudos que atestou que os doadores de órgãos não tinham HIV.

Em sua defesa, Jacqueline afirmou que as rubricas são suas, mas negou qualquer envolvimento na fraude. Ela também declarou que sequer é biomédica e que seu nome foi usado de forma indevida pelo laboratório.

Jacqueline revelou que foi contratada como supervisora administrativa em 2023 e que as assinaturas eletrônicas foram coletadas pela empresa, procedimento que, segundo ela, era comum para todos os funcionários.

Desde a repercussão do caso, ela afirma ter recebido ameaças.

Denúncia e irregularidades

A denúncia sobre o transplante de órgãos contaminados com HIV foi divulgada pela BandNews. Após as revelações, o laboratório PCS Lab Saleme foi interditado pela Anvisa e pela Vigilância Sanitária do Estado no início de outubro.

Vistorias apontaram uma série de irregularidades no laboratório, incluindo amostras de sangue sem identificação, falta de condições adequadas de armazenamento e falhas nos procedimentos de higiene.

De acordo com o Portal da Transparência, o laboratório recebeu mais de R$ 21 milhões entre 2022 e 2023 em contratos com a Fundação Saúde, órgão vinculado à Secretaria Estadual de Saúde.

Com informações de O Globo.