A redução do isolamento social e os enormes estímulos adotados pelos governos têm colaborado para a trajetória de recuperação da atividade mundial.
Nos EUA, os estímulos fiscais aumentaram a renda pessoal disponível para consumo e, consequentemente, as vendas de varejo já retornaram para o patamar do início do ano (ver gráfico abaixo). Essa rápida recuperação do consumo reduziu sensivelmente os estoques das empresas, o que tem aumentado as novas encomendas. Aumento de pedidos impulsionará a produção nacional nesse trimestre.
O recente aumento de casos de Covid-19 em alguns estados americanos interrompeu a trajetória de melhora do deslocamento ao trabalho e deve prejudicar a atividade em julho. Mas não extrapole o último dado para sempre, pois os novos casos já estão começando a estabilizar.
Mesmo considerando a hipótese de que o isolamento melhorará lentamente nos próximos meses, estimamos retração do PIB real de 4,2% nesse ano.
Zona do Euro e China
A recuperação da zona do Euro também está surpreendendo positivamente. Mesmo com um pequeno estímulo fiscal, as vendas de varejo retornaram rapidamente para patamar próximo do início do ano, o que impulsionará a produção no terceiro trimestre.
A China está mais avançada no ciclo de recuperação. O nível da atividade chinesa já voltou para o patamar anterior da crise. Além disso, os incentivos nos investimentos em infraestrutura continuam fortalecendo a demanda por minério ferro, o que beneficia nossas exportações.
Importante lembrar que o ritmo de recuperação não será linear, por dois motivos simples:
- Novos casos de Covid-19 e restrições de locomoção devem continuar pipocando ao redor do mundo até o surgimento de uma vacina;
- A aproximação dos indicadores da normalidade arrefecerá naturalmente o ritmo de expansão por efeito base. É mais fácil aumentar a produção quando a ociosidade das nossas empresas está elevada do que quando a capacidade ociosa está baixa.
Portanto, a tendência de recuperação da atividade mundial é inquestionável, ainda que ocorram pequenos tropeços no meio do caminho. O terceiro trimestre será marcado pelo forte aumento da produção global em ambiente de elevada liquidez monetária.
Brasil
A atividade econômica brasileira está em nítida recuperação desde meados de abril com a redução do isolamento social e os enormes estímulos fiscais e monetários, a saber:
- O isolamento social começou a reduzir no início de abril;
- O auxílio emergencial (coronavoucher) atingiu mais de 64 milhões de pessoas e liberará cerca de R$ 250 bilhões para as famílias até o final de agosto. Esse valor compensará mais de 90% da queda da massa salarial esperada para esse ano. Estimamos que a renda líquida disponível para consumo reduzirá em apenas 0,5%;
- O Banco Central cortou a taxa Selic para 2% a.a. e liberou muita liquidez para o sistema financeiro, o que beneficiará o mercado de crédito ao longo dos próximos meses.
Esses três fatores estão sustentando a retomada do consumo das famílias.
A recuperação do consumo está impulsionando a produção nacional. O nível de utilização da capacidade instalada da indústria voltou de 57% em abril para 72% em julho, recuperando 80% da queda ocorrida no início da crise.
Enfim, a atividade não caiu tanto quanto as previsões mais pessimistas sugeriam. Projetamos retração do PIB real de 9,0% no segundo trimestre em relação ao primeiro, com ajuste sazonal.
Segundo semestre
Olhando para o segundo semestre, existem quatro fatores que sustentarão a recuperação da produção nacional:
- Redução do isolamento e emprego. Maior parte do desemprego ocorreu nas pessoas sem carteira de trabalho assinada. Entendemos que a redução do isolamento social permitirá que os trabalhadores informais voltem a encontrar ocupação nos próximos meses;
- Queima de Estoques. O excesso de pessimismo no início da crise levou várias empresas a cortarem excessivamente a produção. Nossos cálculos sugerem que a redução da oferta foi maior do que a queda da demanda, o que diminuiu sensivelmente os níveis de estoques. Assim, as empresas precisarão produzir um pouco acima do nível do consumo para recompor parte dos estoques;
- Aumento da poupança das famílias. A retração do consumo foi mais intensa do que a queda da massa salarial e da concessão de crédito no segundo trimestre, o que elevou a poupança das famílias;
- Política monetária e crédito. As medidas de política monetária de liberação de liquidez e capital para o sistema bancário devem impulsionar o mercado de crédito ao longo dos próximos trimestres.
Assim, esperamos a continuidade do processo de recuperação da atividade ao longo dos próximos meses. Naturalmente, o ritmo de melhora irá desacelerar ao longo do tempo conforme o nível da atividade se aproxime da normalidade e o efeito dos estímulos diminua.
Portanto, a recuperação da atividade brasileira é inquestionável. Assim, nossa projeção de retração do PIB real brasileiro é de 4%, menos pessimista do que o consenso.