Por Ana Carolina Siedschlag
Investing.com – Passados quase três meses após uma das ofertas públicas iniciais (IPO, na sigla em inglês) mais debatidas dos últimos tempos, as ações da Intelbras (INTB3) acumulam alta de 53,97% desde o início do ano e terão espaço para crescer caso a empresa prove que é capaz de executar as iniciativas e expansões prometidas, disseram analistas ao Investing.com.
A maior fabricante nacional de câmeras e equipamentos de segurança eletrônica e comunicação estreou na B3 (B3SA3) no dia 4 de fevereiro, depois de movimentar R$ 1,3 bilhão com o IPO. As ações da empresa foram precificadas próximas ao piso da faixa indicativa, em R$ 15,75, e, nesta terça-feira (11) eram negociadas perto de R$ 24,27, com queda de 0,9%.
Para Danielle Lopes, analista da Nord Research, o caso da Intelbras é para ser analisado no médio e longo prazo, já que a companhia precisa mostrar sucesso em várias iniciativas tomadas nos últimos meses de expansão tanto de capacidade fabril como de portfólio.
“Quero entender melhor como vão usar o dinheiro do IPO para expandir a capacidade produtiva. Eles estão no Brasil inteiro e queremos ver se ampliando a planta em Santa Catarina vão conseguir vender mais”, diz.
No prospecto da oferta publicado em janeiro, a promessa era que 36% do montante arrecadado no IPO fosse destinado ao crescimento inorgânico – ou seja, fusões e aquisições (M&As) -, enquanto o restante deveria ficar com a expansão da capacidade produtiva, com o investimento em Capex e com a expansão de canais internos de varejo.
Bull Case: a tese de alta
A Intelbras nasceu em São José, município vizinho a Florianópolis (SC), em 1976, atuando na fabricação de centrais e aparelhos eletrônicos. Foi criada pelo empresário Diomício Freitas, também fundador da Cecrisa, uma das maiores fabricantes de revestimentos cerâmicos do país, e quase fechou as portas nos anos 1980, antes de passar o comando para o neto, Altair Silvestri, presidente até hoje.
Após o IPO, a família Freitas ficou com uma fatia de 61% da Intelbras, enquanto 30% foram reservados para o free-float, ou livre circulação na bolsa, e os 9% restantes com a chinesa Dahua Technology, com quem a empresa tem um contrato de exclusividade de venda aqui no Brasil.
Em março, o BTG Pactual (BPAC11) iniciou a cobertura dos papéis da Intelbras com recomendação de Compra e preço-alvo de R$ 28 por ver a ação descontada ante pares globais, com um modelo de negócios único e “difícil de replicar”.
Segundo os analistas, a fabricante de equipamentos eletrônicos tem uma rede de distribuição nacional “incomparável”, cobrindo 98% dos municípios do país. Os produtos são vendidos e instalados por um “exército” de 370 distribuidores, sendo 85% com exclusividade, e por 80 mil revendedores, com foco em pequenas e médias empresas e em clientes residenciais.
Com a vasta variedade de produtos fortemente demandados e uma rede de distribuição bem treinada em todo o país, os analistas se dizem confiantes que a empresa manterá o ritmo acelerado de expansão nos próximos anos, mantendo margens estáveis.
Hoje, 59% das vendas da Intelbras são de equipamentos de segurança e controle de acesso, seguido por equipamentos de rede e comunicação e energia. A mais recente adição aconteceu em 2019, quando a companhia entrou no mercado de energia solar, cujas vendas expandiram perto de 25% em 2020.
Bear Case: a tese de baixa e riscos
Para João Daronco, analista de investimentos da Suno Research, é justamente a última adição ao portfólio que deve ser um sinal de atenção para os próximos meses, com possibilidade de expansão via M&As que não necessariamente terão relação com as atividades já praticadas pela empresa.
“Não parece existir uma sinergia dentro dos outros segmentos com esses produtos. Parece estar mais atrelado ao momentum positivo para a energia solar no mercado, então é preciso esperar para entender onde a companhia quer chegar com isso”, diz.
Já Lopes, da Nord, aponta que o principal risco para a Intelbras é justamente a execução desses novos negócios e de outras vertentes, como o investimento em e-commerce, além da possível entrada de concorrentes chineses no mercado brasileiro.
“Sabemos que eles fazem esses equipamentos muito mais rapidamente. Por que a China não começaria a olhar diretamente para o Brasil?”, aponta, comentando que o contrato de exclusividade com a Dahua deve ser observado de perto.
Ela também lembra que a manutenção de alguns benefícios fiscais obtidos pela companhia de tecnologia ao longo dos últimos anos também deve ser um ponto de atenção, já que poderiam sofrer algum revés em caso de modificação das legislações vigentes. Por isso, explica, não deveriam ter uma relação de dependência com os resultados da empresa.
"A companhia precisa mostrar resultados sem um incentivo fiscal. Os incentivos servem para continuar produzindo, fazem sentido para o negócio e são muito comuns, mas quero saber se os novos segmentos vão ganhar mais espaço frente a isso", diz.
Desde 2009, a Intelbras possui uma filial fabril em Manaus (AM) e, em 2014, conseguiu o direito à isenção e redução de 75% de Imposto de Renda e seus Adicionais não restituíveis com período de 2014 a 2023 para produção dos produtos de áudio e vídeo e comunicação.
A empresa também tem benefícios fiscais com relação ao ICMS aplicado em Santa Catarina e em Minas Gerais, neste último para compras dentro do estado e nas importações de insumos para a fabricação dos produtos beneficiados.
Nesta terça, a empresa apresentou lucro líquido de R$ 89,7 milhões no primeiro trimestre, alta de 468,6% em relação ao mesmo período do último ano, e receita líquida de R$ 696,4 milhões no trimestre, crescimento de 56,1% na base anual e de 3,8% na trimestral. O EBITDA ficou em R$ 102,3 milhões, com margem de 14,7%.