Segundo cálculos de analistas de mercado, a “mordida do come-cotas” sobre os lucros dos cotistas dos fundos de investimento foi de aproximadamente R$ 3 bilhões, em 31 de maio. O valor representa a metade do que o governo costumava embolsar semestralmente até o final de 2019 (R$ 6,1 bilhões), culpa do desempenho mais tímido dos investimentos do início de 2020 para cá, por conta dos desafios econômicos trazidos pela crise sanitária da Covid-19.
Não sabe o que é o come-cotas? Confira como funciona a tributação e se vale a pena aplicar em investimentos que contam com essa cobrança.
Pague antes de receber
Em linhas gerais, o come-cotas é o pagamento antecipado de imposto de renda sobre lucros de fundos de investimento. Entram na cobrança fundos de renda fixa, DI, cambiais e multimercado. O nome sugere exatamente o que essa tributação faz: morde um pouco dos rendimentos dos cotistas – entre 15% e 22% – , dependendo do tipo do fundo, se é de curto ou longo prazo. Para entender se é cobrado e quanto do seu investimento, analise a lâmina do seu fundo. Lá a sua gestora deve, de acordo com as regras da CVM (Comissão de Valores Mobiliários) disponibilizar em linguagem clara todas essas informações.
Como funciona o come-cotas? Atualmente, a cobrança é realizada duas vezes ao ano, em
maio e novembro, e sempre sobre os lucros. Se não houver rendimento positivo, nada é cobrado. Como assim “rendimento positivo”? Exemplo: você aplica R$ 1.000 em um fundo multimercado, mas nos meses seguintes a cota se desvaloriza. Em maio, seus R$ 1.000 estão valendo R$ 900. Nesse caso, o come-cotas não morderá nada da sua conta. O ano segue e, quando chega novembro, seu fundo conseguiu se recuperar e você volta a ter R$ 1.000. Dessa vez, você teve rendimento, mas não foi “positivo”, apenas recuperou o que tinha perdido. Mais uma vez, a Receita Federal não vai mexer com o seu dinheiro.
Porém, se entre maio e novembro o fundo entrou em uma excelente fase, e seus R$ 900 se transformaram em R$ 1.200, será cobrado o come-cotas sobre os R$ 200 que você lucrou sobre o investimento inicial de R$ 1 mil. Se fosse esse o caso, dependendo da característica do seu fundo, você pagaria aproximadamente entre R$ 30 e R$ 40 em impostos, mesmo sem ter sacado o lucro.
A proposta de reforma do IR, contida na segunda fase da reforma tributária em discussão no Congresso, prevê a redução do come-cotas para apenas uma vez ao ano. Porém, o cabo-de-guerra será disputado: de um lado, a Receita Federal resiste à ideia de arrecadar menos; do outro, gestores de fundos comemoram a possibilidade, que pode trazer mais atratividade para os produtos.
Vale a pena investir em fundos mesmo com o come-cotas?
Para responder a essa pergunta é importante entender seus objetivos com o investimento. É parte de uma estratégia de longo prazo? Nesse caso, vale a pena. Se você está pagando come-cotas, significa que o fundo está lucrando e, caso seja um produto de longo prazo, a alíquota do IR será a mínima: 15%. Além disso, todo o imposto cobrado nos come-cotas será descontado do valor a ser pago de imposto de renda quando futuramente você decidir sacar os valores.
Não quero pagar come-cotas, existe algum fundo que não cobra?
Quem não quer passar pela mordida semestral do leão deve procurar fundos de previdência, de ações (FIA) ou fundos imobiliários (FIIs). Porém, isso não significa que o seu dinheiro estará livre de tributação. No momento do saque será preciso acertar as contas com a receita e deixar pelo menos 15% dos seus lucros para o governo.