Por Ana Beatriz Bartolo, da Investing.com – O Ibovespa chega em 2022 bastante descontado, na visão do Inter, especialmente após ter sido penalizado em 2021 pela inflação, conflitos políticos e efeitos da pandemia.
O banco estima que o índice possa ter um upside de 19% ao longo do ano e alcançar os 125 mil pontos, um patamar abaixo do fechamento máximo de 130.776 pontos alcançado em junho do ano passado.
A perspectiva positiva deve ser levada pelos setores do agronegócio e de papel e celulose, que devem se beneficiar da demanda internacional e da safra recorde.
Confira as análises para cada setor e as recomendações de ações do Inter:
Papel e Celulose
O setor de Papel e Celulose é a grande aposta do Inter para 2022, que deve ter uma demanda resiliente, impulsionada pelo consumo de fibra virgem para as embalagens de alimentos.
Os preços elevados também devem trazer ganhos de margens e resultados satisfatórios para as empresas.
O Inter vê que Klabin (SA:KLBN11) e Suzano (SA:SUZB3) devem ser beneficiadas ao longo do ano: a primeira por sua diversificação, tanto de produtos quanto de geografia e a segunda por sua liderança no mercado de fibra curta.
Setor bancário
Com a tendência de alta na taxa Selic, a expectativa é que os spreads de crédito bancários continuem subindo.
Mas isso também deve fazer com que a demanda por crédito desacelere, ainda mais considerando que o endividamento das famílias chegou a 60%.
Por outro lado, o ano deve ser positivo para os Seguros, onde o Inter espera melhores resultados financeiros e menor sinistralidade.
Para 2022, o Inter recomenda as ações do Banco do Brasil (SA:BBAS3), pois apesar dos riscos políticos, a ação está sendo negociada a um nível de desconto que não condiz com sua atual geração de valor.
Os papéis negociam a 4,5x lucros esperados para 2022 e 0,6 vezes seu valor patrimonial, em momento em que possui forte posição de capital, acima da média do mercado
Construção
Segundo o Inter, apesar da atividade na construção ter se mantido forte na maior parte do ano, a deterioração do cenário fiscal e a escalada da inflação trouxeram um nível elevado de incertezas para o setor.
A alta nos juros fez com que a curva de financiamentos começasse a ascender. Assim, o Inter acredita que a recuperação do setor estará diretamente ligada a um cenário macroeconômico mais favorável.
A Cyrela (SA:CYRE3) é a escolhida para 2022, uma vez que a empresa apresenta demonstrações financeiras robustas e bom posicionamento de mercado, mesmo diante da volatilidade do setor.
Além disso, por mais que o seus projetos sejam focados na população de alta renda, a Cyrela também traz variedade de público por meio das suas joint ventures.
Elétricas
O início do período de chuvas alivia a tensão do setor das elétricas, que foi penalizado pela crise hídrica de 2021.
Com níveis de precipitação próximo a média, ainda com um despacho térmico alto, os reservatórios podem se recuperar, levando a crer que 2022 terá um cenário melhor do que o atual, segundo o Inter.
Além disso, a tendência é que o consumo se mantenha em um bom patamar em 2022, comparando com a média dos últimos cinco anos.
Para este setor, o Inter destaca Energias do Brasil (SA:ENBR3) e Equatorial (SA:EQTL3).
A primeira atua em toda a cadeia de energia, com destaque para os lotes de transmissão que começam a agregar o fluxo de caixa.
Já a segunda tem boa performance e segue crescendo por outras vias além de distribuição e uma das apostas será via saneamento básico.
Frigoríficos
Depois de um ano recorde em 2021, impulsionado pela desvalorização do real e mesmo com os bloqueios impostos pela China, o Inter espera que os custos se mantenham elevados nesses próximos meses, por causa da sazonalidade e dos grãos para alimentar o gado.
Além disso, o preço do mercado doméstico deve prejudicar o consumo interno. O cenário se tornará mais favorável apenas no fim do ano, segundo o Inter.
A JBS (SA:JBSS3) é destacada para 2022, uma vez que suas operações variadas e diversificação geográfica podem ser uma vantagem competitiva diante dos riscos trazidos pela variante ômicron de coronavírus, que podem impactar o consumo de alimentos ao redor do mundo.
Saneamento
A universalização do saneamento básico é um dos principais desafios do país e deve demandar investimentos elevados para atender à meta do Novo Marco do Saneamento de alcançar até 2033 os índices de cobertura para água tratada para 99% da população e esgoto para 90%.
Para o Inter, esse objetivo será perseguido por meio de iniciativas público-privadas e deve forçar grandes transformações nos próximos anos.
Apesar do Inter considerar a situação da Sanepar (SA:SAPR11) delicada no momento, já que a empresa é afetada pela revisão tarifária e a crise hídrica, o banco está confiante no seu desempenho no longo prazo.
Os fundamentos da empresa permanecem positivos e a situação atual deve melhorar com o alívio desses fatores.
Saúde
A pandemia elevou o número de usuários de planos de saúde, assim como os custos dos hospitais.
Porém, o Inter acredita que com a diminuição de casos relacionados a Covid-19, as empresas de saúde devem se beneficiar pelo número de beneficiados.
Além disso, o banco entende que o setor ainda é muito fragmentado, o que traz oportunidades de combinação de negócios.
A Notre Dame Intermédica (SA:GNDI3) deve apresentar em 2022 uma redução da sinistralidade e recuperar margens mais interessantes.
Além disso, o Inter destaca a fusão de operações com a Hapvida (SA:HAPV3), que devem trazer ganhos de sinergia.
Seguradoras
Apesar da sinistralidade ter sido elevada em 2021, o avanço da vacinação contra o coronavírus, a normalização do período de chuvas e do setor automotivo devem fazer com que as seguradoras voltem a ter uma maior lucratividade.
O Inter selecionou o BB Seguridade (SA:BBSE3), devido ao forte desconto da companhia e diante da perspectiva de melhores resultados em 2022.
Os papéis negociam a 5,3x seu valor patrimonial e o Inter ainda os considera como um forte pagador de proventos.
Siderurgia e Mineração
Após os recordes em 2021, este ano deverá trazer desafios para o setor, em virtude das novas variantes de covid-19, mas também refletindo os prospectos para a economia chinesa, especialmente quanto à siderurgia, em desaceleração.
No mercado interno, a demanda deve seguir em patamar satisfatório.
Assim, o Inter vê a Gerdau (SA:GGBR4) bem posicionada para colher os benefícios da sua diversificação geográfica, atuando também em mercados importantes como os Estados Unidos.
Quanto à Vale (SA:VALE3), mesmo em um cenário de menor demanda por minério de ferro, a companhia segue como player premium, podendo ser beneficiada por prêmios que compensam uma possível queda nos preços das commodities.
Shoppings
Diante do funcionamento do comércio em tempo integral e poucas restrições em vigor, os dados de faturamento dos shoppings voltam à normalidade e já convergem para os níveis preÌ -pandemia, aponta o Inter.
Assim, a expectativa é que a sua atividade fique associada ao desempenho do varejo e do setor de serviços, que pode ter uma recuperação mais lenta, visto que a renda das famílias diminuiu.
A Multiplan (SA:MULT3) é a escolha do Inter para o setor, uma vez que a empresa tem como público alvo as classes A e B, tendo boa localização nas principais cidades brasileiras, alto volume de vendas, mix de lojistas desconcentrado, baixa inadimplência e taxa de ocupação em níveis elevados.
Assim, a tendência é que a Multiplan mantenha resultados operacionais e rentabilidade acima de seus pares.
Varejo
O Inter está cauteloso com o setor de varejo este ano, porque o cenário macroeconômico ainda está complicado e as eleições devem trazer ainda mais volatilidade para o mercado.
Apesar da possibilidade de redução da inflação e do desemprego nos próximos meses, o crescimento do PIB deve ficar pressionado pela alta dos juros.
Ainda assim, o Inter destaca que as varejistas estão baratas, bem capitalizadas e trabalhando com competência para melhoria de eficiência .
O Grupo SBF (SA:SBFG3) e a Vivara (SA:VIVA3) atendem aos públicos de classe social elevada, que tendem a sofrer menos com o cenário macroeconômico deteriorado.
Além disso, as duas empresas apresentam resultados sólidos e fundamentos resilientes, o que possibilita que elas tenham maior capacidade de capturar a recuperação do setor.