Você já ouviu falar em fundos abutres?
Essa pouco conhecida forma de investimento sobrevoa o mercado, procurando ativos de baixo valor, tanto de empresas, quanto de países. Quer entender mais? Aqui na SpaceMoney nós explicamos os fundos abutres:
O que são?
Fundos abutres são fundos de investimento de altíssimo risco, já que investem em empresas falidas ou em processo de recuperação judicial, além de países em crise. Isso ocorre por meio da compra de uma grande porção das ações, de dívidas ou, até mesmo, de uma empresa como um todo.
Eles funcionam da seguinte forma: uma determinada empresa deve R$ 1 milhão e quer negociar a dívida com quem lhe emprestou esse dinheiro, seu credor. A empresa não pode pagar o valor inteiro da dívida, mas se compromete a pagar 30% dela, ou seja, R$ 300 mil. Como o credor sabe que a empresa está falida, o melhor negócio seria aceitar essa quantia e dar por quitada a dívida.
Nesse momento entram os fundos “abutre”. Eles compram a dívida da empresa com o credor por, digamos, R$ 500 mil e assumem a negociação das dívidas com a empresa devedora. Os “abutres” tendem a não abrir espaço para negociação, o que força seus devedores, cedo ou tarde, a pagar a dívida.
Outra estratégia fundos fundos abutres é a compra de negócios já falidos. Em longo prazo, os fundos recuperam a empresa e a vendem quando se atinge determinado valor de mercado.
Como eles penetram em um país?
Os fundos abutres também podem comprar papéis da dívida do tesouro nacional. Esses títulos soberanos são negociados com fundos internacionais, como o Fundo Monetário Internacional (FMI). Para receber uma linha de crédito do FMI, o país precisa adotar uma série de medidas de austeridade para conter gastos e despesas, assegurando, assim, que pagará seu credor em longo prazo.
Quando as medidas não são efetivas – ou adotadas -, o crédito é cancelado e o país começa a buscar novos financiadores. Então, os fundos abutres entram e compram papéis da dívida do tesouro. Uma vantagem para os investidores é que esses fundos podem processar os países caso não recebam.
Um caso famoso envolveu o governo do Panamá e o fundo americano Elliot Associates LP, que comprou títulos da dívida do país centro-americano por US$ 17 milhões. O fundo entrou com uma ação no tribunal de internacional que trata de assuntos relativos a calotes internacionais, em Nova York), e o Panamá foi obrigado a pagar US$ 57 milhões além da dívida preexistente.
A Argentina e seus oito calotes
Outro caso bom para analisarmos como funcionam os fundos abutre em uma economia nacional é o da Argentina. Em setembro de 2019, o país pediu a suspensão do pagamento (moratória) de sua dívida de US$ 100 bilhões com o FMI, no que foi o oitavo pedido de moratória em 192 anos da existência do país.
A receita que levou a essas situações-limite foi sempre a mesma: a falta de disciplina fiscal. Como outros países, a Argentina precisa importar uma série de produtos, mas não gera dólares suficientes na economia doméstica. Então, ela contrai dívidas que não pode pagar e o ciclo continua. Isso ocorre desde sua independência em 1816.
Mas vamos analisar a história recente do país. Entre 1998 e 2001, a recessão econômica levou o Produto Interno Bruto (PIB) da Argentina a encolher mais de 60%.
A instabilidade foi tanta que o país declarou a maior moratória da história até então: US$ 95 bilhões. Ela só foi superada pela da Grécia, em 2010, cujo calote somou US$ 138 bilhões.
Os fundos abutres passaram a atuar com força na Argentina entre 2005 e 2010, período em que houve uma renegociação da dívida pública. A maioria dos credores aceitou o acordo, mas o fundo Elliot travou uma batalha na justiça em busca de um ganho maior. A Argentina entrou em default, quando não é cumprido o acordo por parte do devedor. No final do caso, foi determinado que o país só pagaria seus demais credores depois de pagar o fundo Elliot. Só no governo Macri, em 2016, que os argentinos pagaram todas as suas dívidas.
Com a atual vitória de Alberto Fernández para o governo argentino, os abutres já voltam a sobrevoar a economia do país. Os títulos da dívida são avaliados entre 30 e 40 centavos de dólar para cada um dólar da dívida, preço ideal para os investidores do ramo. Os caminhos do novo governo podem determinar se os abutres ficam ou vão.
É possível investir em fundos abutre?
Sim, é possível investir em um fundo abutre enquanto investidor comum. Mas, por ser um investimento de altíssimo riso, conforme dito no início deste artigo, essa modalidade é adequada apenas para profissionais que entendem desse ramo.
No entanto, o pequeno investidor que quer se aventurar em busca de altos retornos pode apostar em ações de empresas em processo de recuperação judicial. Mas fica o alerta: existe grande risco de a empresa não se recuperar.