Xavier, da SPX, e Stuhlberger, da Verde, veem oportunidades em juros e bolsa e riscos com cenário externo

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Dois dos principais gestores de recursos do mercado, Luis Stuhlberger, da Verde Asset, e Rogério Xavier, da SPX, veem boas oportunidades em renda fixa e na bolsa de valores, ao mesmo tempo em que temem uma piora dos mercados internacionais por conta do desaquecimento da economia mundial. Em apresentação durante evento do banco Credit Suisse, eles apontaram também riscos para os investidores caso o governo não consiga aprovar a reforma da Previdência. “Não vai ser esse mar de rosas que estão todos falando e é é preciso lembrar que só a reforma da Previdência não basta para equilibrar as contas do governo e reduzir a relação dívida-PIB”, afirma Xavier. Ele defende também mudanças na correção do salário mínimo e no abono salarial.

Xavier lembra que o governo deve enfrentar resistências das corporações, contrárias à reforma da Previdência e outros ajustes. “Essas denúncias contra a família do presidente já podem ser um sinal da atuação desses grupos”, diz.

Melhor opção em prefixados curtos

Para o sócio da SPX, as melhores opções hoje são papéis prefixados de curto prazo, uma vez que não há sinais de que haverá pressão inflacionária que obrigue o Banco Central (BC) a subir os juros. “A economia brasileira está muito fraca, o hiato do produto (capacidade ociosa da economia) ainda é alto, em torno de 4% a 5%, e devemos crescer apenas 2% este ano”, afirma. Assim, o risco de o BC puxar os juros no curto prazo é muito baixo. Ao mesmo tempo, se o governo conseguir avançar com a reforma da Previdência, Xavier acredita que a taxa básica de juros, hoje em 6,5%, pode cair ainda mais. “Com achamos que a inflação pode cair para 3,75%, o juro real poderia recuar também,  para 5% a a 5,75% ao ano, com uma taxa real de 2%”, explica.

Mesmo papéis pós-fixados corrigidos pela inflação, mais longos, têm oportunidades, com juros reais hoje em torno de 4,5% ao ano. “Como o governo vai fazer uma política fiscal mais apertada, cortando gastos, e a economia está demorando a reagir, o lógico será o governo cortar na política monetária, de juros”, diz. Uma possível pressão sobre a inflação poderia vir do dólar, mas Xavier acredita que não há motivos para pressão, mesmo com juros mais baixos, já que o país tem um déficit externo baixo e  a moeda subiu no ano passado. “O mercado está dormindo no ponto em não aproveitar esses juros”, afirma.

Ações que vão subir e ações que vão cair

Além de juros, Xavier diz os fundos da SPX estão investindo em ações no Brasil, com algumas proteções. “Temos um grande long/short, apostando na queda dos setores que serão afetados pela abertura comercial esperada para este governo, como siderurgia e petroquímica, e gostamos do setor de bancos, e alguma coisa de consumo, e gostamos muito de Itaúsa”, explica. “Mas não estamos só comprados, tem muita coisa de setor contra setor.”

Em moedas, os fundos tem apostas no real contra o peso mexicano. “O peso é o queridinho da América Latina e Lopes Obrador, presidente do México, é mais populista”, explica Xavier. “Se o Brasil seguir na agenda liberal e o México na populista, a tendência é que o real performe melhor”, diz. O gestor também não gosta do euro, pois acredita que o Banco Central Europeu (BCE) mudará sua política de subir os juros e reduzir a liquidez no meio do ano diante do desaquecimento da Europa. “E, com a economia americana forte, o diferencial de crescimento vai estar gritante e o diferencial de juros também, então será difícil o euro se manter nos preços atuais.” Ele espera ainda uma recaída da Itália na crise fiscal ainda este ano. “Até o terceiro trimestre a Itália vai dar dor de cabeça novamente”, alerta.

Oportunidade de comprar ações da Vale

A gestora aproveitou também a queda da ação da Vale para comprar papéis da mineradora. “A ação já vinha descontada em relação aos pares internacionais e a forte queda de 25% ontem nos levou a comprar e montar uma posição”, diz. Segundo Xavier, apesar da imensa tragédia em Brumadinho, com muitas mortes e prejuízos para a população e para o meio-ambiente, o impacto será menor que o de Mariana. Também o impacto na produção da Vale será limitado e a empresa deverá retomar sua rentabilidade mesmo atendendo a todas as demandas por reparações. “É uma tragédia sem precedentes em termos humanitários, mas o mercado não perde oportunidades, como mostrou a alta do papel hoje”, diz. Segundo ele, o impacto no preço da ação, a queda de 25% foi exagerado.

O risco, afirma Xavier, é que falte liquidez para sustentar as cotações no caso de algum imprevisto. “Hoje a alta da bolsa está sendo sustentada por investidores locais, que estão comprando e atraindo mais investidores, mas se alguma coisa acontecer, algo der errado, não vai ter grandes investidores para segurar os preços, como ocorreu com a Vale ontem”, diz. Caso o governo consiga aprovar as reformas, porém, é possível que os estrangeiros voltem ao mercado acionário e cumpram esse papel de fornecer liquidez e impedir quedas mais acentuadas. “São esses movimentos que temos visto, aqui e lá fora, um papel cai 25% e o gestor tem de entregar e o papel cai mais e acentua as oscilações”, afirma. “Foi assim com petróleo também”, lembra.

Risco de liquidez

Para ele, os mercados não estão avaliando adequadamente esse risco de liquidez. “Nessa fase de aperto de liquidez, com o Federal Reserve americano revendendo títulos ao mercado e tomando o dinheiro de volta, o Quantitative Tightening, o BC americano mudou os preços relativos de todos os ativos”, diz.

E a situação pode se agravar com a piora da economia mundial. “Acho que os dados do primeiro trimestre vão ser muito ruins na Europa e na China e os Estados Unidos vão estar contaminados pelo impasse com o congresso e o fechamento do governo, que vai mascarar o desaquecimento”, diz. “Aí não sei se os investidores vão achar que estamos às portas da recessão global como no fim do ano passado ou que o pior já passou e que os estímulos dados pelos bancos centrais e pelo governo chinês vão ser suficientes”, explica.

Bolsa descolada do exterior

No Brasil, a bolsa pode se descolar desse cenário de piora no exterior caso fique claro que o país está fazendo os ajustes e o nível de juros vão cair e isso vai permitir uma reavaliação para cima dos preços das ações e pode haver uma nova rodada de animação. Como os estrangeiros não estão aqui, os locais podem continuar colocando dinheiro na bolsa. “Os estrangeiros vão esperar aprovar as reformas e aí pensar se entram ou não”, diz.

Stuhlberger mais otimista

Já Luis Stuhlberger, gestor do Verde, maior fundo multimercado do Brasil, diz que a carteira está investindo em juros também, mas tem mais em ações, com 18% da carteira em papéis locais e 7% em ações no exterior, especialmente nos Estados Unidos. “Nosso departamento econômico tem uma visão otimista, de o PIB brasileiro crescendo 3% este ano e um pouco mais em 2019, mesmo sem as reformas”, afirma. O juro e a inflação baixa tendem a levar os consumidores a comprarem mais. “O dinheiro não acabou, foi a atitude do consumidor que mudou, de não gastar, e se criarmos um ambiente mais construtivo o consumo vai ser mais forte e o PIB vai ser mais forte”, explica. Para ele, a reforma mais difícil nem deve ser a da Previdência, mas sim a dos Estados e municípios. “Mas as empresas vão se alavancar mais e crescer mais”, diz. “Então estamos otimistas com a bolsa”, afirma.

A preocupação de Stuhlberger é com a China e economia mundial. E, por isso, o fundo tem aplicações em papéis nos EUA. “Temos o corte de impostos e o resultado positivo do setor de tecnologia, e hoje a relação preço versus lucro das empresas americanas está em 15 vezes, o que torna razoável ter uma posição em ações lá”, afirma. Ele espera também algum catalizador para a alta das ações nos próximos dois meses, que pode ser um acordo entre EUA e China para por fim à guerra comercial.  “Saindo acordo, podemos ter uma pernada de alta nos mercados”, afirma. Além disso, o acordo poderia dar novo fôlego à economia mundial ao levar a China a importar mais. Já em um cenário de desaquecimento, Stuhlberger lembra que há pouco espaço para os bancos centrais ajudarem a economia reduzindo juros. “O único com esse espaço é o Fed, dos EUA”, diz.

Ele observa ainda que, em janeiro, os fundos hedge, ou multimercados, estão indo muito bem, com ganhos de mais de 1,5%. “Mas não estamos preparados para uma virada de cenário, como a que ocorreu em maio de 2015”, numa referência às gravações do empresário Joesley Batista de conversas com o presidente Michel Temer. “A liquidez da bolsa está ruim e por isso muitos gestores estão optando por investir em índice”, explica. “Mas a liquidez das NTN-B também é ruim e se houver uma virada, vamos term vítimas e correria”, alerta.

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