Após perder na disputa da eleição municipal de São Paulo em 2024, o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL) alertou para o risco de uma “derrota histórica” da esquerda nas eleições presidenciais de 2026.
Em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, Boulos destacou que a extrema-direita no Brasil tem se fortalecido por meio de uma intensa “disputa cultural e ideológica” na sociedade, deixando a esquerda na defensiva.
O parlamentar ressaltou a necessidade de uma avaliação profunda por parte dos progressistas sobre o resultado das urnas, enfatizando que mudanças são necessárias para evitar um possível ciclo prolongado da extrema-direita no poder.
Opinião de Boulos
Segundo Boulos, a derrota da esquerda em 2024 não se deu por um suposto erro em suas convicções, mas por uma articulação poderosa de forças políticas, econômicas e midiáticas, além do apoio financeiro que muitos prefeitos, apoiados por emendas do Centrão, tiveram.
“O índice de reeleição foi de 82%, o maior desde a redemocratização. Os prefeitos, fortalecidos com recursos, agora apoiarão a reeleição desses parlamentares em 2026. Se não houver uma reação, veremos a maior taxa de reeleição no Congresso Nacional”, analisou.
Para Boulos, a solução não é que a esquerda abandone seus princípios fundamentais ou adote uma postura de centro. Ele vê essa ideia como uma armadilha que pode levar a esquerda a um “suicídio histórico” ao renunciar a suas convicções.
“A extrema-direita está construindo uma hegemonia de pensamento, inclusive em setores populares. Se não sairmos da defensiva, ela se consolidará. Precisamos ir para a disputa”, defendeu.
O deputado destacou que o crescimento da extrema-direita no Brasil se deu, em grande parte, pela narrativa de combate ao “sistema”, embora, segundo ele, esse discurso seja enganoso.
“O governo Bolsonaro foi antissistema? O Paulo Guedes no Ministério da Fazenda foi antissistema? Pelo amor de Deus! Esse é o sistema mais puro e escancarado. Mas a narrativa colou, e a esquerda não pode deixar de disputar na sociedade. Não é ser contra a prosperidade, mas debater os caminhos para alcançá-la”, pontuou.
O papel de Lula e a necessidade de diálogo direto
Na entrevista, Boulos afirmou que a vitória da esquerda em 2022, com a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para a Presidência, só foi possível devido à popularidade e liderança histórica de Lula.
Ele vê Lula como um ponto de apoio fundamental para a esquerda evitar o avanço da extrema-direita.
“Quem salvou o país da extrema-direita em 2022, no fio da navalha, foi o Lula, porque ele é a maior liderança popular da história do Brasil. Só ele pode fazer isso novamente em 2026. Lula é o fator que separa o Brasil do abismo da extrema-direita e do fundamentalismo”, defendeu.
Boulos ressaltou que a esquerda precisa de uma nova estratégia para reconquistar o apoio popular, indo “olho no olho” e dialogando diretamente com a população. “É necessário mudar a estratégia e o método. É ir para as ruas, com coragem, fazer o diálogo com as pessoas”, disse.
A campanha em São Paulo e a influência de Pablo Marçal
Ao comentar sobre sua derrota para Ricardo Nunes (MDB) na disputa pela prefeitura de São Paulo, Boulos destacou que a sua rejeição entre eleitores foi impulsionada por ataques do influenciador e empresário Pablo Marçal (PRTB), que ficou em terceiro lugar na disputa.
Ele revelou que Marçal divulgou um documento falso afirmando que Boulos havia sido internado por uso de drogas, apenas dois dias antes da votação.
“Para mim, quem decidiu essa eleição foi o Pablo Marçal. Era uma coisa tão bizarra, tão ofensiva, que ele normalizou o Ricardo Nunes, que parecia bonzinho perto dele”, afirmou.
Boulos explicou que aceitou participar de uma “sabatina” com Marçal dias antes do segundo turno, não para dialogar com o adversário, mas para tentar ganhar o apoio dos eleitores do empresário, justificando que sua presença era uma tentativa de conquistar votos.
Reflexões para 2026
Para Boulos, o futuro da esquerda brasileira depende de um trabalho coletivo e estratégico de reposicionamento, sem abdicar de seus valores.
Ele acredita que, caso a esquerda não atue de forma incisiva e não dispute diretamente o espaço político, corre o risco de sofrer uma “derrota histórica” nas eleições presidenciais de 2026.
A narrativa de “combate ao sistema” adotada pela extrema-direita, segundo ele, precisa ser desconstruída para que o Brasil não entre em um longo ciclo de poder autoritário e de retrocessos para a democracia e direitos sociais.
Boulos finaliza com um alerta: “Esse fenômeno político com viés fascista, autoritário, fundamentalista, ganhou uma parte expressiva da sociedade. Se agora fizermos a leitura errada da derrota de 2024, vamos produzir outras derrotas. Precisamos estar prontos para a disputa.”
Com informações do jornal Folha de S.Paulo.