Anielle Franco, ministra da Igualdade Racial, tomou uma decisão crucial ao escolher um restaurante reservado, distante da agitação de Brasília, para uma conversa que prometia ser definitiva.
A reunião com o então ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida, visava resolver uma situação que se tornara insustentável e que envolvia alegações graves de assédio sexual.
As informações são da revista Veja, em reportagem assinada por Laryssa Borges, Marcela Mattos , Ricardo Chapola.
De acordo com o material, a ministra teria sofrido importunação sexual durante meses e o governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que sabia do caso, tomou providências apenas quando os episódios tornaram-se públicos por veículos da imprensa como o Metrópoles.
Histórico de conflito e episódios de importunação
Desde o início de 2023, quando Anielle Franco assumiu o comando do Ministério da Igualdade Racial, ela enfrentou constrangimentos e importunações por parte de Silvio Almeida, diz a reportagem.
O relacionamento entre os dois começou de forma amigável durante o período de transição de governo, mas rapidamente evoluiu para um comportamento inapropriado por parte de Almeida.
Segundo relatos, o ministro fazia “elogios” inconvenientes, sussurrava fantasias e, em uma situação particularmente ousada, chegou a tocá-la inapropriadamente.
Anielle Franco tentou resolver a situação longe dos holofotes públicos
O jantar no restaurante foi a última tentativa de Anielle Franco para encerrar a situação antes que se transformasse em um escândalo, revela a reportagem.
Apesar de seus esforços para evitar um alarde, o caso foi exposto quando o site Metrópoles revelou que a ONG Me Too Brasil havia recebido denúncias de assédio sexual contra Almeida, com Anielle Franco entre as supostas vítimas.
Na sexta-feira (6), Silvio Almeida foi demitido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) após a revelação das denúncias.
Reações e defesa de Silvio Almeida
Antes de ser afastado, Almeida negou as acusações, alegou ser vítima de uma perseguição política e usou os canais oficiais do ministério que liderava para fazer sua defesa pessoal.
Ele apresentou mensagens trocadas com Anielle Franco como uma manobra para evidenciar que havia uma relação amigável e não conflituosa.
O ministro também afirmou que o encontro no restaurante foi uma tentativa de resolver uma disputa pessoal e profissional, e não um momento de assédio.
Depoimento de Anielle Franco
No depoimento para seus colegas ministros, Anielle detalhou os episódios de assédio que enfrentou.
Ela relatou ter sido assediada “há vários meses”, descreveu palavras e comportamentos inapropriados por parte de Almeida.
Os políticos do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) que supostamente saberiam do caso, de acordo com a reportagem, são Vinícius Marques de Carvalho (Controladoria-Geral da União), Jorge Messias (Advocacia-Geral da União), Cida Gonçalves (Mulheres) e Esther Dweck (Gestão)
Um dos episódios mais perturbadores ocorreu durante uma reunião de trabalho, quando Almeida teria tocado suas partes íntimas por baixo da mesa, na presença de várias autoridades.
Anielle explicou que o convite para o jantar foi uma tentativa de persuadir Almeida a mudar seu comportamento e evitar um escândalo.
Durante o encontro, Almeida teria reconhecido ter passado dos limites, mas ao final da noite, continuou a fazer avanços impróprios.
Impacto e repercussão do escândalo causado por Silvio Almeida
Os rumores sobre o assédio sexual já circulavam por Brasília (DF), inclusive no Palácio do Planalto.
A primeira-dama, Janja da Silva, ouviu diretamente de Anielle Franco sobre as importunações sexuais.
Embora a ministra não quisesse inicialmente formalizar a denúncia, a situação tornou-se insustentável quando as acusações foram reveladas publicamente.
Desdobramentos e a última palavra do presidente Lula
Silvio Almeida tentou se defender e afirmou que as acusações eram infundadas e resultado de uma disputa política. No entanto, sua decisão de não pedir demissão e a divulgação de uma nota pública em que acusou o grupo Me Too Brasil de interferência em uma licitação complicaram ainda mais a situação.
Em seu depoimento, relatou aos ministros Vinícius Marques de Carvalho, Jorge Messias e Paulo Pimenta (Secretaria de Comunicação Social) que as acusações, além de infundadas, eram fruto de uma disputa política entre militantes de pautas identitárias e fariam parte de um movimento para desacreditá-lo, orquestrado por um advogado ligado ao Grupo Prerrogativas.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, já informado do caso, decidiu pela demissão de Almeida.
Nova ministra e o futuro do Ministério dos Direitos Humanos
Com a saída de Silvio Almeida, a nova ministra dos Direitos Humanos, Macaé Evaristo (PT-MG), assume o cargo.
A decisão de Lula encerra o caso para o Palácio do Planalto, que busca agora focar em novos desafios e garantir a estabilidade política.