Movimentação clandestina

Denuncia contra Bolsonaro: PGR conclui que agronegócio entregou dinheiro para financiar tentativa de golpe em 'sacola de vinho'

Relato consta na página 145 das 272 da denúncia, baseado na delação premiada de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro

Jair Bolsonaro - Agronegócio
Foto: CAIO GUATELLI / Caio Guatelli / AFP

O dinheiro para financiar a tentativa de golpe de Estado, planejado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e aliados como o general Walter Braga Netto, conforme concluiu a Procuradoria-geral da República (PGR), vieram do agronegócio, segundo a própria denúncia assinada pelo procurador Paulo Gonet.

Segundo o documento, os recursos foram entregues de uma forma, no mínimo, curiosa: dentro de uma sacola de vinho.

O relato consta na página 145 das 272 da denúncia, baseado na delação premiada de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro.

Cid revelou que o responsável por buscar o financiamento foi o general Braga Netto, ex-ministro da Defesa e candidato a vice-presidente na chapa bolsonarista em 2022.

O dinheiro e a reunião secreta

De acordo com a denuncia, no dia 12 de novembro de 2022, Braga Netto, o coronel Ferreira Lima e o coronel De Oliveira se reuniram para discutir a execução do plano golpista.

Pouco depois, De Oliveira teria procurado Cid para solicitar recursos que viabilizassem a operação.

Dias depois, o encontro decisivo aconteceu: no Palácio do Planalto ou no Alvorada, Braga Netto entregou pessoalmente o dinheiro, afirmando que os valores tinham sido arrecadados junto ao setor do agronegócio.

E o detalhe que chama a atenção: o montante foi repassado dentro de uma sacola de vinho, um método que evidencia o caráter clandestino da movimentação financeira.

O núcleo da trama golpista

A PGR identificou um núcleo central que conduziu a tentativa de golpe dentro da organização criminosa.

Além de Bolsonaro, estavam envolvidos Alexandre Ramagem, Almir Garnier Santos, Anderson Torres, Augusto Heleno, Paulo Sérgio Nogueira, Walter Braga Netto e Mauro Cid.

Segundo a denúncia, esse grupo tomou as principais decisões, com Mauro Cid responsável por transmitir orientações aos demais membros.

Os crimes

A PGR denunciou Bolsonaro e os demais integrantes da organização criminosa pelos seguintes crimes:

  1. Liderança de organização criminosa armada
  2. Tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito
  3. Golpe de Estado
  4. Dano qualificado pela violência e grave ameaça contra o patrimônio da União
  5. Deterioração de patrimônio tombado

E agora?

O Supremo Tribunal Federal (STF) decidirá se aceita a denúncia da PGR. Se isso ocorrer, Bolsonaro e os demais denunciados se tornarão réus, e será aberta uma ação penal com coleta de provas, depoimentos e defesa.

Ao final, o STF poderá condená-los ou absolvê-los, e a defesa ainda poderá apresentar recursos dentro do tribunal.

A pena para os crimes atribuídos a Bolsonaro pode ultrapassar 30 anos de prisão.