Controvérsias pesam

Após impasse sobre emendas, deputados adiam pedido de urgência para votar pacote fiscal de corte de gastos

O texto, que visa garantir a manutenção do arcabouço fiscal, entrou em pauta, mas não avançou, e espera-se que a votação seja reagendada para esta quarta-feira, 4 de dezembro

Brasília (DF), 23/05/2023 – O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e o presidente da Câmara, Arthur Lira, durante entrevista após reunião na residência oficial da presidência do Senado. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Brasília (DF), 23/05/2023 – O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e o presidente da Câmara, Arthur Lira, durante entrevista após reunião na residência oficial da presidência do Senado. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

O governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) enfrenta novos desafios em sua agenda fiscal, com o pedido de urgência para apreciação do pacote de corte de gastos adiado na última terça-feira (3) na Câmara dos Deputados.

O texto, que visa garantir a manutenção do arcabouço fiscal, entrou em pauta, mas não avançou, e espera-se que a votação seja reagendada para esta quarta-feira, 4 de dezembro.

O pedido de urgência e o impacto nas discussões parlamentares

O pedido de urgência do governo federal visa simplificar o processo legislativo, acelerar a tramitação das propostas e encurtar o tempo necessário para a apreciação e discussão dos textos.

Com a urgência, espera-se que o pacote de medidas consiga ser analisado mais rapidamente, o que permite que o governo siga com suas propostas de ajuste fiscal.

Contudo, a votação não avançou como esperado nesta terça-feira e gerou um clima de incerteza sobre a rapidez com que o pacote será aprovado.

A relação com as restrições do STF e o papel da AGU

A aprovação do pedido de urgência e a tramitação do pacote de gastos também podem estar diretamente relacionadas às recentes decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre emendas parlamentares.

Na segunda-feira, 2 de dezembro, o ministro Flávio Dino, relator da matéria na Corte, autorizou a dispensa de algumas verbas destinadas ao financiamento de emendas parlamentares, mas com algumas ressalvas.

Essa decisão foi referendada por unanimidade pelo STF em plenário virtual.

Em resposta à decisão de Dino, a Advocacia-Geral da União (AGU) solicitou, nesta terça-feira, 3 de dezembro, que o ministro reconsiderasse três das restrições impostas.

Espera-se que o STF se posicione novamente sobre o pedido de reconsideração nas próximas horas, o que pode ter impacto na tramitação do pacote fiscal no Congresso Nacional.

O pacote fiscal e as metas fiscais do governo Luiz Inácio Lula da Silva

O pacote de medidas fiscais do governo federal busca gerar uma economia de R$ 70,5 bilhões nos próximos dois anos.

Essa economia passou a ser considerada essencial para garantir o cumprimento do arcabouço fiscal, conjunto de regras criado para controlar os gastos públicos e promover o equilíbrio fiscal no país.

De acordo com o plano do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a dívida pública deve ser reduzida ao longo dos próximos anos, e o superávit fiscal poderia atingir R$ 150 bilhões até 2028.

O impacto da falta de confiança nas regras fiscais sobre o mercado financeiro

No entanto, a falta de credibilidade no cumprimento das regras do arcabouço fiscal tem gerado desconforto no mercado financeiro.

Desde antes do anúncio do pacote fiscal, o dólar já demonstrava uma tendência de alta, o que refletia a apreensão dos investidores em relação à capacidade do governo de cumprir suas metas fiscais.

Na última sexta-feira, 29 de novembro, a moeda americana chegou a ser cotada a R$ 6,05, e, embora tenha recuado no início desta semana, permanece acima dos R$ 6,00, o que preocupa as autoridades econômicas e o mercado financeiro.

O que Lula e Haddad propõem com o pacote de medidas fiscais

O governo federal enviou à Câmara dos Deputados uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que trata de diversas questões fiscais e, além disso, planeja a apresentação de um projeto de lei complementar (PLP).

Entre as principais medidas previstas, destacam-se:

  • Restrição de benefícios aos militares;
  • Estabelecimento de limites para o reajuste do salário mínimo, embora com a possibilidade de ganhos reais;
  • Aumento da carga tributária para pessoas com rendimentos superiores a R$ 50 mil mensais;
  • Implementação de um sistema de biometria para a concessão de benefícios da Previdência Social.

A oposição critica as medidas do pacote fiscal

As propostas do governo, entretanto, têm sido alvo de críticas por parte da oposição.

O deputado federal Carlos Jordy (PL-RJ), por exemplo, criticou o fato de o governo querer impor regras fiscais mais rigorosas à população mais pobre, enquanto não cumpre as mesmas regras para si próprio.

Vimos a limitação do abono salarial. Eles querem atrelar isso à regra do arcabouço fiscal. Bom, eles não cumprem as regras do arcabouço fiscal, mas a população, o mais pobre vai ter que cumprir essas regras, vai ter que estar sujeito a essas regras”, afirmou o parlamentar.

Proposta de aumento da isenção do Imposto de Renda sofre mais críticas

Além das medidas de corte de gastos, o governo também propôs aumentar a isenção do Imposto de Renda (IR) para aqueles que recebem até R$ 5.000,00 por mês.

Essa proposta, embora ainda não formalizada, tem gerado controvérsia no Congresso Nacional e no mercado, que questionam a sua viabilidade e os impactos fiscais da medida.

A ampliação da isenção seria um passo para reduzir a carga tributária sobre as camadas de renda mais baixa, mas seus críticos apontam que tal medida pode não ser suficiente para resolver os problemas fiscais do país.