Mudanças à direita

Deputados deixam PL após pressão por alinhamento ao Bolsonarismo

A oposição a qualquer proposta vinda de partidos à esquerda tem sido uma das marcas do partido após a adesão de Jair Bolsonaro e seus aliados em novembro de 2021

Generais Braga Neto e Augusto Heleno e o presidente Jair Bolsonaro - Arquivo/DW
Generais Braga Neto e Augusto Heleno e o presidente Jair Bolsonaro - Arquivo/DW

Em 2024, o PL (Partido Liberal) viveu uma fase de turbulência interna, com ao menos quatro deputados federais fora da legenda, além de crescentes queixas de pressão para alinhamento à agenda bolsonarista. As informações são do jornal Folha de S.Paulo.

A oposição a qualquer proposta vinda de partidos à esquerda tem sido uma das marcas do partido após a adesão de Jair Bolsonaro e seus aliados em novembro de 2021.

A virada à direita do PL após a filiação de Jair Bolsonaro

De acordo com membros e ex-integrantes da sigla, o PL tem se inclinado cada vez mais para a direita radical, especialmente após a filiação de Jair Bolsonaro.

Apesar das críticas, o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, tem sido poupado pelos dissidentes, que apontam o alinhamento bolsonarista como o principal responsável pela radicalização da legenda.

Os críticos afirmam que a maioria dos parlamentares do PL mantém uma agenda direitista conservadora, enquanto uma minoria, cerca de 20 parlamentares, ainda se mantém inclinada ao centro político.

PL detém 94 deputados federais

Em 2022, o PL elegeu 99 deputados federais, mas atualmente registra 94, após a saída de cinco parlamentares e o falecimento de Amália Barros, então vice-presidente do PL Mulher.

A saída de deputados tem gerado repercussão interna, e a ala mais moderada do partido busca afastamento da crescente radicalização.

Samuel Viana relata pressão para adotar linha extremista

Um dos parlamentares que deixou o PL no final de 2023, Samuel Viana, hoje no Republicanos (MG), compartilhou suas experiências de pressão interna pela ala radical.

Segundo ele, a direita raiz, como passou a ser chamada essa vertente do partido, não aceitava que outros parlamentares tivessem perfis mais moderados.

Queriam impor uma agenda contra a esquerda em todas as votações, explica.

Viana diz que o ambiente de conflito interno o levou a se desfiliar para manter seu perfil político mais moderado. Para ele, o PL tem se tornado um reflexo do radicalismobolsonarista, onde quem não segue essa linha passa a ser rotulado como comunista.

Outros parlamentares seguem o exemplo de Viana

A saída de Samuel Viana foi seguida por outros nomes, como Yuri do Paredão (MDB-CE), Luciano Vieira (Republicanos-RJ) e Junior Mano (PSB-CE).

Este último, expulso após apoiar a candidatura de Evandro Leitão (PT) à Prefeitura de Fortaleza, fez uma postagem nas redes sociais em que reafirmava sua lealdade a Valdemar Costa Neto, mas apontou a pressão do ex-presidente Jair Bolsonaro como responsável por sua expulsão.

Luciano Vieira, por sua vez, afirmou que sua saída foi resultado de uma disputa política local.

O parlamentar havia apoiado o irmão, Leo Vieira, que concorreu à prefeitura de São João de Meriti (RJ) contra o candidato do PL. O partido apoiou o prefeito da cidade, que era nosso adversário, e eu precisei sair para disputar a eleição, explicou.

Robinson Faria considera deixar o PL

O ex-governador Robinson Faria, do Rio Grande do Norte (RN), também indicou a possibilidade de deixar o PL, mas não respondeu aos contatos da reportagem para esclarecer sua situação.

Sua saída poderia se somar às de outros parlamentares em desacordo com a linha radical adotada pela sigla.

PL rejeita alegações de alinhamento exclusivo ao Bolsonarismo

Procurado pela reportagem, o PL negou que a saída de parlamentares tenha relação com o alinhamento ao bolsonarismo ou com as pautas da direita.

A legenda afirmou que as mudanças de partido ocorreram por motivos regionais ou pessoais, e que muitos parlamentares já manifestaram interesse em se filiar ao PL na próxima janela partidária, especialmente por causa da relação com o ex-presidente Jair Bolsonaro. Estamos confiantes de que ampliaremos ainda mais nossa força no Congresso Nacional, declarou a sigla.

Histórico do partido: Da Arena ao Centrão e a aliança com Jair Bolsonaro

O PL, atual partido de Jair Bolsonaro, possui uma longa história política no Brasil.

Criado como uma das sucessoras da Arena, sigla que apoiava o regime militar, o PL tem sido comandado por Valdemar Costa Neto desde o início do século XXI.

O partido transitou entre a adesão e a oposição aos governos de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), mas ganhou destaque nas eleições de 2002, quando se aliou ao PT e elegeu o empresário José Alencar como vice-presidente.

Desde então, o PL manteve proximidade com os governos do PT, especialmente nas áreas de transporte.

Em 2014, se juntou ao Centrão, o grupo de partidos que foi decisivo na queda de Dilma Rousseff em 2016.

Contudo, foi após a filiação de Bolsonaro, em 2021, que o PL se transformou de um partido de médio porte para uma das maiores forças políticas do Brasil.

A adesão de Jair Bolsonaro ao PL em 2021 foi um marco na trajetória da sigla. O ex-presidente trouxe consigo uma grande base de apoio e aliados, o que catapultou o PL para o protagonismo político.

No entanto, essa virada à direita também gerou divisões internas, com parlamentares mais moderados em discordância à agenda radical imposta pelo bolsonarismo.

Com a saída de vários parlamentares, o PL enfrenta agora o desafio de equilibrar sua base, manter a lealdade dos bolsonaristas, ao mesmo tempo em que tenta atrair novos aliados e moderados para fortalecer sua posição no Congresso Nacional.

O partido, que se tornou uma força considerável nas últimas eleições, continua a ser um dos principais focos da política brasileira nos próximos anos.

As informações são do jornal Folha de S.Paulo.