Política

Governo Lula busca diálogo com os EUA sobre deportação de brasileiros

Governo busca evitar tensões diplomáticas e busca soluções para futuras deportações

Lula
Imagem: Reprodução

O governo brasileiro demonstrou insatisfação com as condições em que os primeiros brasileiros deportados dos Estados Unidos chegaram ao país, mas optou por um tom mais moderado para evitar um atrito diplomático.

Apesar das críticas ao tratamento dado aos deportados, o Palácio do Planalto sinalizou a intenção de manter o diálogo com o governo norte-americano para buscar uma solução para futuras deportações.

Brasileiros chegaram algemados e relataram agressões

Na última semana, 88 brasileiros deportados dos Estados Unidos desembarcaram em Manaus (AM) algemados e acorrentados. Alguns relataram que sofreram agressões por parte de agentes norte-americanos durante o trajeto.

O grupo permaneceu detido ao chegar ao Brasil devido a um problema técnico no avião dos EUA que os transportava, o que gerou um impasse sobre a continuação da viagem até o destino final, Belo Horizonte (MG).

Diante da situação, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) determinou que a Força Aérea Brasileira (FAB) enviasse uma aeronave para resgatar os deportados e exigiu a retirada das algemas.

Itamaraty pede explicações aos EUA sobre deportação

Na segunda-feira (27), Lula se reuniu com o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, para discutir a questão.

Mais tarde, o Itamaraty convocou o encarregado de negócios dos EUA no Brasil, Gabriel Escobar, para pedir esclarecimentos sobre as condições do voo.

Embora tenha condenado a forma como os brasileiros foram transportados, o chanceler Mauro Vieira descartou a possibilidade de o governo brasileiro utilizar aeronaves da FAB para futuras deportações. Segundo ele, o envio dos deportados ao Brasil é uma responsabilidade do governo americano.

“Essa operação foi trágica justamente por um problema técnico no avião”, afirmou o chanceler, referindo-se ao voo que pousou em Manaus. Vieira também destacou que acordos firmados entre os dois países em 2018 e 2021 regulamentam esse tipo de procedimento e reforçou que o Brasil não aceitará o uso de algemas nos deportados em território nacional.

Governo brasileiro cria posto de acolhimento para deportados

Diante do aumento das deportações, o governo federal anunciou a criação de um posto de acolhimento no Aeroporto Internacional de Belo Horizonte (Confins) para receber brasileiros que retornam forçadamente dos EUA.

A medida visa oferecer suporte imediato aos deportados, garantindo melhores condições de recepção e assistência.

Brasil tenta evitar crise diplomática

A decisão do governo brasileiro de adotar um tom mais diplomático busca evitar um desgaste com os Estados Unidos.

A experiência recente da Colômbia serviu de alerta: no último fim de semana, o país sul-americano se recusou a receber um avião com deportados porque a aeronave era militar.

O impasse gerou uma crise diplomática, com ameaças de sanções comerciais por parte do governo norte-americano, levando a Colômbia a recuar.

O endurecimento da política migratória nos EUA, especialmente sob a administração do ex-presidente Donald Trump, preocupa o governo Lula.

Além das deportações, a decisão de Washington de suspender financiamentos a organismos internacionais afetou diretamente programas humanitários no Brasil, como o acolhimento de imigrantes venezuelanos em Roraima.

Na terça-feira (28), Lula convocou nova reunião com ministros para debater as deportações e definir estratégias para lidar com a situação sem comprometer as relações diplomáticas entre Brasil e Estados Unidos.