O tão aguardado início da operação do sistema de bilhetagem Jaé nos transportes públicos do Rio de Janeiro foi mais uma vez adiado. O prefeito Eduardo Paes (PSD) anunciou, em coletiva de imprensa, que a nova data para a implementação do Jaé foi agendada para o dia 1º de julho de 2024.
O que justifica o atraso da operação do Jaé?
De acordo com o prefeito Eduardo Paes, um dos principais motivos para o novo adiamento da operação do Jaé seria a falta de integração entre os sistemas de transporte da Prefeitura do Rio de Janeiro e os modais de responsabilidade do Governo do Estado, que incluem metrô, trens, barcas e ônibus intermunicipais.
Embora o município tenha avançado no processo de implementação do sistema, a integração com os serviços estaduais permanece como um ponto de entrave crucial para o sucesso da operação.
Outro fator que contribui para a demora estaria relacionada a uma negociação em curso que envolve a venda da operadora do Jaé.
A empresa responsável pelo sistema de bilhetagem encontra-se em processo de aquisição pela Autopass S.A., uma empresa que opera o cartão TOP na Grande São Paulo, com presença no Metrô, CPTM e ônibus metropolitanos (EMTU).
Essa negociação gerou questionamentos e contribuiu para o adiamento da implementação da bilhetagem exclusiva.
Conheça a Autopass
A Autopass, que chegou a participar da licitação do Jaé, ficou na quarta posição, após oferecer um valor de R$ 33.000.000,00, enquanto a vencedora do certame, que assumirá o contrato, ofereceu R$ 110.000.000,00.
Caso a venda da operadora seja concretizada, a nova empresa adquirente deve assumir o contrato que foi acordado anteriormente, com validade por doze anos.
Eduardo Paes revelou, durante a coletiva, que recebeu um pedido formal da Autopass para o adiamento da operação do Jaé, que estava marcada para entrar em vigor nos próximos meses.
Paes esclareceu que a Prefeitura do Rio atua como responsável pelo processo e que, caso a venda seja autorizada, a Autopass passa a ser contratada pela cidade, desde que respeite os requisitos legais estipulados no processo licitatório.
No entanto, o prefeito afirmou que a empresa precisa cumprir as exigências estabelecidas.
Paes defende Jaé e critica a antiga Fetranspor
Durante a entrevista coletiva, o prefeito Eduardo Paes não poupou críticas aos antigos gestores do sistema de transportes do Rio, a quem chamou repetidamente de “máfia“.
Paes afirmou que a Prefeitura enfrenta uma resistência poderosa daqueles que tradicionalmente controlaram o sistema de transportes na cidade, a antiga Federação das Empresas de Transportes de Passageiros do Estado do Rio de Janeiro (Fetranspor), atual Semove.
Paes acusou os empresários de transporte de manipular o sistema de bilhetagem, e chamou a RioCard — empresa responsável pela bilhetagem eletrônica nos transportes coletivos — de “caixa-preta“.
O prefeito declarou que os dados sobre o número de passageiros transportados eram escassos e frequentemente imprecisos, o que dificulta a gestão do sistema e o controle dos subsídios pagos às empresas.
— “Eles estão incomodadíssimos com isso. Mafiosos que fazem essa caixa-preta há muito tempo no Rio. Eles não vão nos deter. Vamos dar transparência a esse sistema e pagar um preço justo”, disse Paes.
Dados sobre os Transportes no Rio de Janeiro
A falta de transparência no sistema de transportes do Rio de Janeiro foi um dos pontos mais críticos mencionados por Paes e pela secretária municipal de Transportes, Maina Celidonio.
Ela relatou que a Prefeitura lida com sérias dificuldades para obter informações detalhadas sobre a quantidade de passageiros que utilizam os ônibus da cidade, com dados fornecidos de maneira deficiente pela RioCard.
A Prefeitura, por exemplo, não sabe quantos usuários são transportados a cada hora nos coletivos, pois a empresa apenas envia relatórios mensais com o total de passageiros transportados, o que impede uma gestão eficaz e a análise precisa do serviço prestado.
“Durante quatro anos, o único dado que eu recebi da Riocard sobre o número de passageiros de hora em hora foi de um dia útil. Isso que eu tenho para planejar. Hoje ela me manda o agregado diário 40 dias depois para pagarmos o subsídio“, explicou Maina Celidonio.
Riocard reage e alfineta Jaé
A Riocard Mais, responsável pelo sistema de bilhetagem atual, se posicionou oficialmente sobre as críticas recebidas e reafirmou seu apoio ao processo de transição para o novo sistema.
A empresa, no entanto, fez questão de destacar o “pífio desempenho” da empresa contratada pela Prefeitura, que atualmente transporta apenas 1,70% do total de passageiros dos transportes municipais.
O impasse sobre a mudança de sistema gera preocupação tanto entre os usuários de transporte público quanto entre os empregadores, que temem os prejuízos financeiros resultantes de uma possível perda do Bilhete Único Interestadual, benefício que atende cerca de 230 mil pessoas.
Até o momento, não há uma solução clara para este problema.
Paes cobra Cláudio Castro por maior integração entre os sistemas de transporte
Durante a coletiva, Paes também cobrou mais empenho do Governo do Estado para a integração dos sistemas de transporte.
Embora o prefeito tenha ressaltado a boa relação com o secretário estadual de Transportes, Washington Reis (MDB), ele criticou a falta de avanço nas negociações entre as esferas municipal e estadual.
Segundo Paes, desde 2021 a Prefeitura do Rio de Janeiro tenta integrar os sistemas, sem sucesso, e ele espera que o governo estadual finalmente adote a licitação municipal para o Jaé, e permita uma maior sinergia entre os modais de transporte.
O prefeito ainda afirmou que o governador Cláudio Castro (PL) havia dado uma sinalização positiva em reuniões anteriores, mas que esperava que as tratativas se acelerassem.
— “Quero crer que houve ali um problema e isso não viabilizou essa operação a tempo. Mas o governador reiterou hoje e acho que agora vai“, afirmou Paes.
As informações são do jornal O Globo.