
O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), foi tema de um extenso perfil publicado pela revista americana The New Yorker. No texto, assinado pelo jornalista Jon Lee Anderson, Moraes foi descrito como um magistrado “combativo” e “frequentemente considerado o segundo homem mais poderoso do Brasil”, em uma cruzada contra a extrema direita digital global.
Segundo a revista, Moraes se tornou figura central na batalha sobre quem tem o poder de definir a realidade política atual.
“De um lado, estavam Alexandre de Moraes e seus aliados. Do outro, uma coalizão internacional de influenciadores da direita, inclusive [o ex-presidente] Bolsonaro, [o bilionário] Elon Musk e, cada vez mais, [o presidente americano] Donald Trump“, diz o texto.
Enfrentamento ao extremismo digital
Moraes justificou suas decisões de bloqueio de plataformas como Telegram, X (antigo Twitter) e Rumble, e afirma que as redes sociais se tornaram o maior poder de todos. “Se eles mandarem um porta-aviões, aí a gente vê. Se o porta-aviões não chegar até o Lago Paranoá, não vai influenciar a decisão aqui no Brasil“, ironizou o ministro sobre possíveis pressões internacionais.
A atuação de Moraes gerou processos nos Estados Unidos por parte da Trump Media e da plataforma Rumble, que o acusam de violar a Primeira Emenda da Constituição americana, ao ordenar a remoção de contas de influenciadores de direita.
Como Alexandre de Moraes analisa a internet, a democracia e a manipulação ideológica?
Para Moraes, as redes sociais são utilizadas como instrumento de manipulação política. “A direita radical percebeu, durante a Primavera Árabe, que as redes sociais podiam mobilizar pessoas sem intermediários“, afirmou. “Se Goebbels estivesse vivo e tivesse acesso ao X, estaríamos condenados. Os nazistas teriam conquistado o mundo.“
O ministro ainda criticou a forma como a direita apropriou-se da palavra “liberdade” para se apresentar como defensora da democracia. “É uma façanha impressionante de lavagem cerebral“, disse.
O perfil também inclui falas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que aponta a internet como um desafio à governabilidade e à soberania dos Estados. “Antes, autoritarismo significava fechar o Congresso, paralisar o Judiciário ou colocar tropas nas ruas. Agora, alguém pode falar com 213.000.000 de brasileiros sem nunca ter pisado no Brasil“, afirmou Lula.
Os parlamentares Tabata Amaral (PSB-SP) e Alessandro Vieira (MDB-SE) também foram ouvidos. Eles defendem a criação de uma legislação que responsabilize redes sociais por disseminação de desinformação e discursos de ódio.
Como foi a trajetória de Alexandre de Moraes até aqui?
Filho de um empresário e de uma professora, Alexandre de Moraes formou-se em Direito pela USP, foi promotor e secretário de Segurança Pública de São Paulo. Chegou ao Supremo Tribunal Federal (STF) em 2017, indicado pelo então presidente Michel Temer (MDB), após breve passagem pelo Ministério da Justiça.
“Quando me tornei ministro da Justiça, toda a esquerda me chamava de golpista. Agora, a direita radical me odeia“, afirmou Moraes à revista.
O texto de New Yorker destaca que, em meio a ameaças à democracia, o STF abriu o inquérito das fake news em 2019. Moraes foi o relator do caso, que resultou em investigações sobre milícias digitais e nos atos golpistas de 8 de Janeiro de 2023. Segundo ele, o julgamento que tornou Bolsonaro réu por tentativa de golpe desmente acusações de perseguição política: “Não foi só a Polícia Federal que os acusou — o próprio procurador-geral decidiu apresentar denúncia“.
Para Moraes, não existe “a menor possibilidade” de o STF reverter a inelegibilidade de Bolsonaro, atualmente impedido de disputar eleições até 2030.
Apesar de elogiar a firmeza do ministro, o texto da New Yorker também ouve críticos, como o jornalista Felipe Recondo, que alerta para o risco de concentração de poder. Entre os pontos citados estão o bloqueio de contas em redes sociais sem justificativa às plataformas e multas elevadas por descumprimento das ordens judiciais.