No dia 6 de novembro, a reeleição de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos, ao ultrapassar — com folga — a marca de 270 votos no Colégio Eleitoral, reforçou o poder de influência que o país exerce sobre o cenário político global.
Com a vitória confirmada após os resultados de Wisconsin e Alasca, o republicano marca seu retorno ao cargo e levanta discussões sobre como essa mudança pode impactar as eleições brasileiras de 2026.
Brasil e as ondas globais: um histórico desde 1994
Desde o Plano Real, em 1994, o Brasil tem mostrado uma sensibilidade particular para tendências políticas globais, especialmente quando oriundas dos EUA. O contexto econômico e político dos anos 90 foi fortemente influenciado pelo neoliberalismo, que dominava as principais economias ocidentais, incluindo os Estados Unidos de Bill Clinton. Período marcado pelo governo de Fernando Henrique Cardoso no Brasil, com foco em reformas econômicas e privatizações em sintonia com a onda liberal dos EUA.
Nos anos 2000, com a ascensão de lideranças progressistas pelo mundo, como a de Barack Obama, o Brasil também experimentou uma guinada à esquerda com a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva.
“A ascensão de Barack Obama e a ideia de um estado mais social, mais aberto, com invenções mais progressistas, mas dentro de um sistema conservador americano, foi visto como algo positivo para o Brasil, que avançou muito durante o governo Lula, utilizando políticas similares.”, afirma Igor Lucena, Doutor em Relações Internacionais pela Universidade de Lisboa.
Essa “onda rosa” na América Latina – que levou ao poder lideranças como Hugo Chávez, Evo Morales e Rafael Correa – espelhava o momento político internacional, caracterizado pela busca de justiça social e inclusão econômica.
A partir de 2016, o mundo presencia um novo ciclo com a ascensão da direita populista. Donald Trump vence nos EUA e, no Brasil, Jair Bolsonaro chega ao poder em 2018, refletindo uma onda conservadora de valores e um discurso de combate ao “establishment”. Assim como Trump, Bolsonaro conquistou apoio com uma retórica anti-sistema e de crítica ao globalismo, em um movimento que caracterizou o cenário político da década.
“Para o bem ou para o mal o que acontece lá reverbera aqui, seja política, seja economia. Eu acho que isso ocorre Independente de sejam de governos, de esquerda ou direita, existe uma influência muito grande das ações do governo americano nas ações que são praticadas no Brasil”, completa Lucena.
A influência americana nas eleições brasileiras
A eleição de Biden, em 2020, e o retorno de Lula, em 2023, reafirmaram um padrão: a política americana frequentemente serve como um indicador de tendências no Brasil. A vitória de Biden indicou uma volta ao progressismo e foi seguida pela eleição de Lula, evidenciando como as mudanças de governo nos Estados Unidos influenciam o ambiente político brasileiro.
Agora, com o retorno de Trump, analistas avaliam se o Brasil seguirá a mesma tendência, com um possível retorno da direita em 2026. Nomes como Tarcísio de Freitas, Romeu Zema e até mesmo Bolsonaro, atualmente inelegível, estão entre os potenciais candidatos que poderiam representar essa guinada.
“Além destes nomes, um nome que tem me chamado muita atenção é o do governador Ronaldo Caiado (União Brasil), de Goiás. Ele representa uma direita conservadora, mas uma direita conservadora aberta para o diálogo, que escuta o adversário. Não é essa direita que nós temos representada principalmente pelo Bolsonarismo, que faz a negação da própria direita e não dialoga com a esquerda ou com movimentos mais progressistas.”, destaca Roberto Uebel, professor de Relações Internacionais da ESPM.
Direita em ascensão e o futuro de 2026
O retorno de Trump ao poder representa mais do que um fenômeno americano. Ele aponta para uma nova ascensão de forças conservadoras a nível mundial. Na Europa e em outros países do Ocidente, esta influência já é nítida. Destacando os exemplos de Alemanha e França, Lucena analisa esse movimento:
“É uma tendência Internacional e isso acho que influencia não só aqui, mas o mundo inteiro. Na Alemanha, teremos eleições em 23 de fevereiro e deve ter uma volta da centro-direita, devido à implosão do governo de centro-esquerda. Se a eleição fosse hoje, na França você teria uma vitória de Marine Le Pen. Aqui na América Latina, eu acho que esse movimento vai acontecer e eu acho que com mais força.”
Em 2026, figuras conservadoras no Brasil terão a oportunidade de explorar essa conexão, principalmente se conseguirem angariar apoio popular com discursos de segurança, economia e valores tradicionais.
“A onda à direita vem porque, uma onda rosa de centro-esquerda anterior, prometeu entregar serviços e produtos sociais para a sociedade e não cumpriu. O grande erro da pauta da esquerda foi, ao invés de focar na melhora do salário e da qualidade de vida, focou muito em etnias, subdivisões sociais, subgrupos e visões sobre sexualidade. Não é isto que as pessoas querem, pelo menos nos Estados Unidos isso foi muito nítido, as pessoas querem resolver problemas comuns.”, ressalta Igor.
Enquanto a esquerda tem um histórico sólido, representado pela figura de Lula, ela carece de novos nomes fortes. Faltam representantes que possam dar uma continuidade significativa a essa frente nas próximas eleições em 2026.
“A esquerda brasileira tem muitas questões que ela precisa se reinventar, se aproximar das suas bases nas periferias, das classes C e D que ela perdeu. (Nessa parcela da população) Houve um aumento da vitória da direita, especialmente de uma direita ultra conservadora.”, afirma Uebel.
Por outro lado, a direita conta com uma diversidade de lideranças em ascensão, prontas para capturar o eleitorado insatisfeito com o atual governo. Inspiradas pelo retorno de Trump, elas podem impulsionar o conservadorismo no Brasil.
“Nós já temos uma direita ultra conservadora no Brasil. Eu acho que a grande questão é que hoje, talvez ela esteja se descolando um pouco do Bolsonaro, uma direita que volta às suas raízes.”, analisa o professor de Relações Internacionais da ESPM.
As eleições de 2026 e o futuro político do Brasil
Embora a política seja cíclica e as influências globais não garantam os mesmos resultados em cada país, o histórico sugere que as tendências americanas frequentemente refletem no Brasil.
Se a direita ganhar força em 2026, isso pode significar mais do que uma mudança de governo: pode ser o reflexo de uma nova fase de alinhamento com as políticas conservadoras internacionais. De qualquer forma, a vitória de Trump pode ser vista como um prelúdio das “cenas dos próximos capítulos” para a política brasileira.