O presidente da Rússia, Vladimir Putin, sugeriu nesta quinta (24) pela primeira vez que pode empregar forças da aliada Coreia do Norte na Guerra da Ucrânia.
Em entrevista coletiva ao fim da cúpula do Brics em Kazan, o anfitrião do encontro parou muito perto de confirmar o que os serviços de inteligência dos EUA, Coreia do Sul e Ucrânia vêm dizendo há dias: que Pyongyang já enviou talvez 3.000 dos 12 mil soldados que estaria disposta a ceder a Putin.
Questionado sobre imagens de satélite que mostram concentrações dessas forças na Rússia, Putin disse que “se há imagens, elas refletem algo“. O presidente russo referiu-se diretamente ao acordo estratégico que assinou em julho com o ditador Kim Jong-un.
Acordo entre Rússia e Coreia do Norte
O acordo é um tratado de defesa mútua, cujo artigo 4º prevê. Neste acordo, um país socorrerá ao outro em caso de um deles “ser posto em estado de guerra por uma invasão armada“.
“Estamos em contato (com Pyongyang) para ver como desenvolvemos isso. Eles estão comprometidos com o artigo 4º”, disse Putin.
O acordo foi ratificado por deputados russos nesta quarta (23). Seus termos exatos não são totalmente públicos. Um exemplo disso é como fica o compartilhamento de táticas nucleares dos países, ambos detentores de ogivas atômicas.
O presidente russo fez uma rara visita a Pyongyang em junho para assinar o acordo.
Pode existir um cenário de paz?
Putin mencionou a proposta de negociações de paz feita pela China e pelo Brasil, dizendo que ela teve muito apoio dentro e fora do Brics. Mas, sugeriu que, entre outros motivos, o ucraniano Volodimir Zelenski não admite conversar porque quer ficar no poder.
“Para negociar, ele teria de levantar a lei marcial, e aí haveria eleições“, disse. O mandato do presidente da Ucrânia expirou no começo do ano, mas ele permanece governando porque a lei não permite pleitos com a lei marcial instalada devido à guerra.
Plano de paz Brasil-China
Em maio, Brasil e China apresentaram uma série de medidas com o objetivo de “desescalar o conflito” na Ucrânia.
O texto propõe a negociação direta entre a Ucrânia e a Rússia a partir de três princípios: não expansão do campo de batalha; não escalada dos combates; e a não inflamação da situação.
O Plano de Paz também propõe o fim do bombardeamento da infraestrutura civil e determinação de uma zona segura em torno de usinas nucleares na fronteira.
Zelensky criticou a proposta de paz durante discurso na Assembleia Geral da ONU, em setembro.
“E quando a dupla chinesa-brasileira tenta crescer um coro de vozes — com alguém na Europa, com alguém na África, dizendo algo alternativo a uma paz plena e justa, surge a pergunta: qual é o verdadeiro interesse?”, indagou.
No mesmo dia, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) admitiu que o trabalho para um acordo não é fácil. Para o mandatário, é necessário achar um “denominador comum” entre Rússia e Ucrânia.
“Há uma proposta da China que vem sendo elogiada por algumas pessoas junto ao Brasil e estamos dispostos a saber se os dois países estão interessados em conversar, porque, se os dois não quiserem, não tem conversa”, adicionou.