O que aponta o relatório

Bolsonaro indiciado pela PF — Tudo o que se sabe sobre a tentativa de golpe de Estado no Brasil até agora

Com 884 páginas, o relatório aponta que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e outros 36 indivíduos teriam planejado ações para subverter o regime democrático com a tentativa de golpe de Estado

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O relatório da Polícia Federal (PF) sobre a tentativa de golpe de Estado no Brasil, cujo sigilo foi derrubado na terça-feira (26) pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, traz revelações alarmantes sobre a trama articulada para impedir a posse de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em 2023.

Com 884 páginas, o documento aponta que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e outros 36 indivíduos teriam planejado ações para subverter o regime democrático com a tentativa de golpe de Estado.

O material foi enviado à Procuradoria-Geral da República (PGR), que analisa se formaliza denúncia contra os envolvidos.


Trama da Tentativa de Golpe de Estado: o que são os detalhes revelados pela PF

O relatório indica que os investigados começaram a articular o golpe ainda em 2019, durante o primeiro ano do governo Jair Bolsonaro (PL).

Entre os nomes citados estão militares, aliados políticos e membros do alto escalão do governo, como o ex-ministro Augusto Heleno, que teria papel central na tentativa de subverter decisões judiciais e legitimar a trama por meio da Advocacia-Geral da União (AGU).


Bolsonaro e o controle da tentativa de Golpe de Estado

Segundo a PF, Jair Bolsonaro exerceu pleno domínio dos atos relacionados à tentativa de golpe.

O ex-presidente teria inclusive elaborado um decreto golpista com o apoio de um núcleo jurídico, com data definida para assinatura: 15 de dezembro de 2022.

O documento revela que Bolsonaro deixou o país em 30 de dezembro de 2022, dois dias antes do término do mandato, para evitar uma possível prisão e acompanhar, de fora do Brasil, os desdobramentos dos atos antidemocráticos de 8 de Janeiro de 2023.


Intervenção militar e o papel de Braga Netto na tentativa de Golpe

O ex-ministro da Casa Civil e candidato a vice-presidente na eleição de 2022, o general Walter Braga Netto, foi apontado como o principal articulador do golpe.

Ele teria organizado reuniões no comitê de campanha para discutir intervenção militar e pressionado comandantes do Exército e da Aeronáutica para aderirem à ruptura institucional.

  • Tanques prontos: Segundo mensagens interceptadas pela Polícia Federal (PF), o comandante da Marinha na época, Almir Garnier Santos, teria tanques no arsenal prontos para agir.


Ataques ao Sistema Eleitoral

A investigação revelou que membros do governo Jair Bolsonaro, como o diretor da Agência Brasileira de Inteligência (ABIN), Alexandre Ramagem, forneceram informações falsas sobre o sistema eleitoral ao ex-presidente.

Além disso, havia um plano para apreender urnas eletrônicas com o pretexto de realização de perícia.

Um diálogo obtido pela PF entre Carlos Rocha, do Instituto Voto Legal, e um prestador de serviços revelou planos de selecionar urnas supostamente com falhas para embasar acusações de fraude.


Militares e resistência verde-oliva ao Golpe de Estado

Apesar das pressões, a cúpula do Exército, liderada pelo general Freire Gomes, não aderiu ao golpe, o que, segundo o relatório, foi determinante para o fracasso do plano.

Freire Gomes foi alvo de ataques internos liderados por Braga Netto.

Ainda assim, a PF aponta que alguns militares agiram de forma independente para promover ações clandestinas.

Eles utilizavam uma apostila de anonimização para ocultar rastros de participação no golpe.


Planos de assassinato e neutralização de autoridades

Entre os elementos mais graves do relatório estão os planos para assassinar o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) e o ministro Alexandre de Moraes.

  • Data marcada: O assassinato de Moraes estava previsto para 15 de dezembro de 2022, mesma data planejada para a assinatura do decreto golpista.
  • Monitoramento de Lula: Equipes formadas por militares das Forças Especiais monitoraram o então presidente eleito por dois meses após as eleições, com recursos públicos do Exército para acompanhar sua movimentação.

Mesmo após o fracasso do golpe, Moraes continuou como um alvo de monitoramento clandestino.


ABIN Paralela e ações clandestinas

O relatório detalha a existência de uma ABIN paralela, que teria realizado atividades ilegais para garantir o sucesso do golpe.

Entre as ações, estavam o planejamento de prisões arbitrárias, como a tentativa de neutralizar ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), como o próprio Alexandre de Moraes.


Relatório indica fuga planejada de Jair Bolsonaro

A PF aponta que a saída de Jair Bolsonaro para os Estados Unidos, em dezembro de 2022, não foi casual.

Um plano de fuga elaborado em 2021 teria sido adaptado e colocado em prática no final do mandato.

Esse movimento visava evitar uma possível prisão enquanto os atos golpistas eram planejados para ocorrer em 8 de Janeiro de 2023.


Próximos passos

Com o envio do relatório à PGR, cabe ao órgão decidir se apresenta denúncia contra os trinta e sete indiciados.

O conteúdo do documento reforça o papel central de Jair Bolsonaro (PL) e aliados na tentativa de ruptura democrática e aumentam as pressões sobre o ex-presidente.

A revelação do relatório marca um avanço nas investigações sobre os eventos de Janeiro de 2023 e o período que os antecedeu, com toda a tentativa de golpe, além de expor a complexidade e o alcance das articulações antidemocráticas.