Na semana passada, o termo “offshore” dominou o noticiário brasileiro depois que o Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ, em inglês) revelou que 1.897 brasileiros, entre eles, autoridades como ministro da Economia, Paulo Guedes, e o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, possuem empresas e dinheiro investido em paraísos fiscais – países com carga de tributação inferior a 20%, como Bermudas, Caymam, Suíça e Luxemburgo –. O caso ficou conhecido como Pandora Papers.
Desde então, muitas discussões sobre o assunto tiveram início. Afinal de contas, muitas pessoas ainda têm dúvidas sobre investimentos no exterior e tão pouco sabem o que significa offshore.
Para os brasileiros que buscam diversificar seus investimentos e fugir dos riscos locais, potencializados pela pandemia de COVID-19 e as eleições presidenciais de 2022, o exterior pode ser uma saída um tanto quanto viável. Engane-se quem pensa que é preciso estar fora do país para investir no exterior. Graças a mudanças regulatórias, o desenvolvimento tecnológico e de novos produtos, essa tarefa acabou se tornando simples e prática, aumentando a quantidade de interessados em fazer aplicações em outros países a cada ano.
Esse crescente interesse é expressado através de números. Segundo dados da Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais), no 1º trimestre deste ano, as aplicações de brasileiros em fundos de investimentos no exterior cresceram 40,2%, saltando para R$ 735 bilhões.
É vantagem investir no exterior?
Ale Boiani, assessora de investimentos, conta que “investir no exterior tem algumas vantagens importantes, como: diversificação de moeda, investimento em moeda forte, acesso a mercados que não temos no Brasil, planejamento fiscal, tributário e sucessório”.
Um dos principais benefícios de se investir lá fora sem dúvidas é a abertura de novas possibilidades, com mais alternativas para se aplicar e contando com um ambiente mais competitivo e propício de negócio, o que acaba reduzindo consideravelmente os riscos.
Para se ter uma noção da diferença de opções, na bolsa de valores brasileira, a B3 (B3SA3), cerca de 300 empresas possuem ações listadas, o que corresponde a 1% das companhias existentes no mercado mundial. Já nas bolsas dos Estados Unidos, são aproximadamente cinco mil, praticamente a metade de todo o mercado de ações global.
Há diferentes maneiras de se investir em mercados internacionais. Antes de mais nada, você precisará escolher se pretende fazer isso diretamente, ou seja, enviando dinheiro para o país que se deseja realizar aplicações, ou não.
Investimentos de forma direta são um pouco mais complexos, uma vez que é necessário fazer a abertura de conta em uma instituição de fora do Brasil e fazer a conversão da moeda.
Porém, também há maneiras mais simples, aplicando em instrumentos financeiros disponíveis na bolsa de valores brasileira. As principais opções são: fundos de investimentos, BDRs, ETFs, COEs e Real States.
Além desses, também há quem escolha seguir o caminho dos paraísos fiscais – países com carga de tributação inferior a 20%, como Bermudas, Caymam, Suíça e Luxemburgo – para abrir empresas, chamadas de offshore.
O que é offshore?
Em tradução livre, significa ‘além da costa’, ou seja, algo que está fora do território de um país. Trata-se de qualquer empresa que é aberta fora do seu país de origem. Normalmente, o termo é associado às companhias que são abertas nesses paraísos fiscais.
É considerada uma das formas mais comuns de se aplicar dinheiro no exterior de forma legal – desde que aberta com recursos declarados e com os valores informados na declaração de imposto de renda –, já que não há necessidade de contratar mão de obra ou produzir algo.
Segundo Ale Boiani, offshore é indicada para “quem tem patrimônio imobiliário no exterior e investimentos nos Estados Unidos acima de US$ 60 mil”. Além disso, diversos assessores de investimentos recomendam para clientes com patrimônio familiar elevado e que estão buscando a proteção desse.
Vale destacar que caso os ativos dessa empresa ultrapassem R$ 1 milhão, eles precisam ser declarados para o Banco Central.
As offshore são bastante criticadas justamente por facilitarem a lavagem de dinheiro para atividades ilegais e criminosas. Essa opinião acabou “pegando” porque muitos paraísos fiscais trabalham com empresas de fachada, com a identidade do real proprietário e a origem do dinheiro sendo preservadas.