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Pronampe e fintechs são as melhores opções de crédito para micro, pequenas e médias empresas

Segundo as fontes consultadas, os grandes bancos desconhecem a realidade de empreendedores e disponibilizam produtos desfavoráveis

- Nataliya Vaitkevich/Pexels
- Nataliya Vaitkevich/Pexels

Em razão da pandemia de Covid-19, o ano de 2020 foi desafiador para a economia brasileira. Para amenizar a falta de liquidez no mercado, o governo federal lançou linhas emergenciais de crédito, sobretudo para socorrer micro, pequenas e médias empresas (MPMEs) — as maiores empregadoras dentre todos os setores.

O desafio permanece neste ano, com melhores perspectivas graças à vacinação e a prorrogação do auxílio emergencial às famílias de baixa renda. A injeção de recursos do Estado deve continuar, mas há ainda uma série de dificuldades que empresários de MPMEs enfrentam para salvar seus negócios.

Nesta spacedica, você, empreendedor, confere as instruções de especialistas para obter crédito de forma responsável e sobre como fintechs podem ser alternativas melhores que os bancos na hora de buscar empréstimos — por oferecerem, geralmente, juros mais baixos e menos burocracia. Também mostraremos como preparar melhor sua empresa para momentos de crise econômica, como a atual.

Organização: o maior desafio para empreendedores

Para Carlos Castro, CEO da SuperRico, plataforma de planejamento financeiro pessoal, em momentos difíceis da economia sobrevivem as empresas que melhor se organizam. Diz o economista que as micro, pequenas e médias empresas são as que mais sofrem por conta do baixo alcance de caixa.

“Numa situação de pandemia, se a gente pega o exemplo do setor de serviços, que lida muito com demanda e consumo, você vê que o ‘abre e fecha’ das lojas foi muito prejudicial. Se o negócio fica mais de 30 dias sem clientes, o empresário realmente não consegue manter o custo fixo. O caixa não tem suficiência para manter a operação e as portas se fecham”, explica.

Castro sugere, então, que empreendedores, dentro de um planejamento financeiro, procurem fazer uma melhor gestão de caixa para ampliar a cobertura numa situação em que o faturamento seja comprometido. Segundo o executivo, na grande maioria dos casos, as MPMEs que conseguem acesso a crédito são aquelas que têm “uma mínima condição adequada de contabilidade, organização e planejamento”.

Se tomados dos bancos, esses créditos necessitam de condições que assegurem ao credor “que aquele valor emprestado vai ter garantia de retorno”, ou seja, as empresas precisam estar minimamente estruturadas. “Isso significa que a empresa consegue honrar esse pagamento”, diz.

Opções de crédito

Segundo o planejador financeiro, quando chega a hora de tomar o crédito, o empreendedor precisa analisar toda a situação particular do seu negócio e de suas finanças para avaliar qual opção pode ser mais vantajosa.
 
Entre as sugestões de Castro está o Pronampe, que, neste mês de junho, se tornou um programa permanente de crédito a partir da Lei 14.161. 

Quem se inscreve no programa pode pagar um empréstimo em até 36 meses. Já a taxa de juros anual máxima aplicada sobre o valor total do crédito será a da Selic mais 1,25% sobre o valor do empréstimo, para as operações realizadas até 31 de dezembro de 2020; ou de 6% (no máximo) sobre o valor do empréstimo, para as operações realizadas a partir de 1º de janeiro de 2021.

Os limites de crédito são de R$ 108 mil para microempresas e de R$ 1,4 milhão para pequenas empresas.

Podem participar do programa: as microempresas com faturamento anual de até R$ 360 mil; e as empresas de pequeno porte com faturamento entre R$ 360 mil e R$ 4,8 milhões por ano.

O especialista afirma que o crédito do programa, com base na primeira edição lançada no ano passado, foi, de fato, mais barato para ser financiado. Porém, o processo burocrático dificulta a adesão ao programa por conta de exigências específicas.

Nesse caso, o empreendedor tem ainda as opções de empréstimos com garantia — em que o indivíduo oferece aos bancos veículo, imóvel ou algum outro bem como garantia de pagamento, obtendo, assim, taxas de juros mais baixos (já que o risco de inadimplência é muito reduzido). 

E, por último, o crédito bancário, se não houver o que oferecer como garantia. Segundo Castro, essa alternativa tem o maior custo. 

Mesmo sob críticas, linhas emergenciais foram positivas para negócios

Segundo levantamento do Centro de Estudos de Mercado de Capitais (CEMEC), da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), o Pronampe, com cobertura do Fundo de Garantia de Operações (FGO) do Banco do Brasil, atendeu 517.000 empresas, com volume de R$ 37,5 bilhões, em 2020. 

Outra linha de crédito emergencial foi o Programa Emergencial de Acesso a Crédito (PEAC), descontinuado em dezembro, que era coberto pelo Fundo Garantidor para Investimentos (FGI) do Banco Nacional do Desenvolvimento (BNDES) e que atendeu 114.355 empresas ao oferecer o montante de R$ 92,1 milhões.

O documento aponta que a captação líquida das micro, pequenas e médias empresas em períodos de 12 meses saltou de valores inferiores a R$ 50 bilhões, até meados de 2020, para R$ 196 bilhões em março de 2021 — o maior valor, pelo menos, desde o início de 2014.

“Esse valor representa 72% da captação líquida total de recursos de crédito bancário feitas pelas empresas, de R$ 272 bilhões nesse período. Além disso, deve-se registrar que esse valor é mais que o dobro da captação líquida de R$ 77 bilhões das grandes empresas, que em geral, tem melhores condições de acesso ao crédito bancário”, diz o material.

Autores do estudo argumentaram que “o forte impacto positivo desses programas recomenda promover uma avaliação de sua funcionalidade e dos seus custos e benefícios”, e deve se levar em conta “também a criação agora de condições mais favoráveis ao financiamento das MPMEs, com sua inserção nas prioridades do BNDES e a implementação de várias inovações regulatórias”.

Para democratizar o crédito

Empresários de fintechs que atuam com soluções direcionadas a micro, pequenos e médios empreendedores são categóricos ao afirmar que os bancos simplesmente não entendem as MPMEs e, por isso, não oferecem produtos específicos para donos dessas empresas.

Marcos Travassos, CEO da MoneyMoney Invest, sentiu na pele essa dificuldade, tanto que o primeiro insight para a criação da sua empresa, fundada em 2020, foi a partir de um episódio em que o banco impôs condições que lhe seriam desfavoráveis.

Quando Travassos foi contrair crédito com o banco para ajudar a esposa num novo negócio, o gerente informou-lhe que bloquearia seus bens como forma de garantia. O executivo recusou, disse que poderia dar o aval — assinatura lançada em título de crédito, pela qual o assinante se compromete a garantir as obrigações de outra pessoa que figure no documento —, mas a instituição não aceitou.

“Eu disse: Você me deu cartão de crédito sem limite predeterminado, um cheque especial do valor que eu solicitei no crédito. Como que o mesmo não vale para fiança bancária?”, conta. “Foi um dos exemplos claros de que as micro, pequenas e médias empresas nunca tiveram acesso a bons produtos financeiros. E deveriam. A pandemia deixou claro para a sociedade que sem MPMEs nós teríamos um grande problema econômico e social em geração de emprego, renda e arrecadação”, completa.

Por isso, a MoneyMoney Invest insiste no lema da democratização do crédito verdadeiro para pequenas e médias empresas. “A gente não obriga o cliente a comprar um seguro, consórcio ou previdência para condicionar o crédito. Além disso, oferecemos para pessoas físicas a oportunidade de investir, sem a intermediação de um banco, em renda fixa e crédito privado”, afirma Travassos.

Uma das empresas que recorreu à MoneyMoney Invest na busca de crédito foi a concessionária de motocicletas Dede Motos. Segundo Marcos Nogueira, responsável pela área financeira da empresa, entre maio e dezembro de 2020 ela enfrentou grandes desafios, o que o levou a procurar bancos para abastecer o capital de giro, aumentar o estoque e expandir os negócios, criando condições para passar por esse momento com mais tranquilidade. 

“Cotamos empréstimos com os principais bancos dentro das nossas condições financeiras, em relação a juros e a prazo. Encontramos juros muito altos, burocracia extrema, mesmo já sendo clientes na instituição, e prazos reduzidos para pagamento, além de muito tempo para efetivar o crédito em conta”, destaca. 

Sediada em Ribeirão Preto, a Dede Motos recorreu, então, à modalidade P2P lending, por meio da plataforma da MoneyMoney Invest. E, segundo Nogueira, não se arrependeu: “Houve clareza na proposta e juros dentro da média do mercado atual, porém com possibilidades de negociações”.

Somente no primeiro trimestre de 2021, a MoneyMoney Invest já realizou volume de negócios equivalente a 200% do que fez em todo o ano de 2020. Para continuar nesse ritmo, a empresa aposta em aprimoramento da tecnologia de Inteligência Artificial (IA) — para acelerar o processo de concessão de crédito — e planeja solicitar ao Banco Central (BC) autorização para se tornar uma instituição financeira, em outras palavras, uma Sociedade de Crédito Direto (SCD). “Com isso, teremos condições de criar novos produtos”, conclui Travassos. 

Auxílio aos pequenos e médios varejistas

Para Francisco Pereira, CEO da Trademaster, fintech especializada em soluções financeiras e de crédito B2B com foco em distribuição, indústria e varejistas, no fim do dia, “quem salva o micro, pequeno e médio empreendedor de varejo não são os bancos, mas sim os créditos que ele obtém na compra dos insumos ou da mercadoria que vai revender”.

O executivo opina que as empresas se salvam mais graças à extensão de prazo para pagamentos do que em linhas de crédito obtidas pelos bancos. “A Trademaster se insere aí. Para fazer com que a indústria e o distribuidor sejam mais assertivos numa concessão de prazo maior para esse pequeno varejo”, explica.

Uma pesquisa realizada pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), em parceria com o Sebrae, aponta que 45% dos micro e médios empreendedores buscaram empréstimo no ano de 2020, mas apenas 18% tiveram acesso ao crédito. Segundo Pereira, isso expõe a mazela dos bancos tradicionais e o excesso de burocracia. “Os grandes bancos têm total falta de conhecimento em saberem como essas empresas funcionam, não sabem separar o bom do mau pagador”, diz.

Além de permitir que os varejistas tenham acesso a prazos de pagamento maiores, a fintech intermedeia também por limites de crédito maiores, para que esses pequenos empreendedores consigam comprar do seu distribuidor ou diretamente da indústria. 

“Está no nosso DNA empoderar esse setor, que tem sido responsável por milhões de empregos e sustento de famílias. Conosco, o empreendedor não tem que dar garantia. Nós queremos que ele tenha um mix cada vez mais adequado, assim se atrai mais consumidores para nossos clientes”, afirma.

Perguntado se o cenário deve mudar assim que a economia responder melhor aos estímulos, Pereira diz: “Não acho que os bancos vão se posicionar para serem mais agressivos na concessão de crédito. Muito se fala, mas na prática pouco se vê. O apoio ao pequeno empresário deve continuar, mas os bancos devem melhorar também”, conclui.