Imagine que, durante uma crise ou queda brusca de ativos, você se depara com aquela ação que sempre desejou ter em sua carteira sendo vendida a um preço muito abaixo do seu valor potencial.
Foi o que aconteceu com muitos especuladores em 2020, por exemplo, quando as incertezas da pandemia de Covid-19 levaram a B3, a bolsa brasileira, a seis circuit breakers no mesmo mês e à mínima anual de 63.569 pontos em março.
Para momentos como esse, os investidores costumam ter a chamada reserva de oportunidade: um montante financeiro aplicado com maior liquidez, que pode ser utilizado para incluir, com agilidade, determinados ativos em seu portfólio, ou mesmo para rebalancear sua carteira de investimentos.
Em uma eventual queda da bolsa de valores, por exemplo, é possível encontrar oportunidades em ações desvalorizadas momentaneamente, e que devem recuperar seu valor no médio ou longo prazo.
Contudo, entre aqueles que têm menos experiência no mercado financeiro, o conceito de reserva de oportunidade costuma causar certa estranheza e confusão, principalmente em relação à mais conhecida reserva de emergência.
Não confunda mais
A reserva de emergência existe para garantir a segurança financeira em momentos inesperados. “Ao bater um carro, sofrer um acidente ou quando surge algum problema com dívidas, por exemplo, quem tem a reserva consegue arcar com os custos sem precisar recorrer a empréstimos ou financiamentos”, explica o CEO da fintech de crédito Grupo H, Fernando Ferraz.
Como já diz o próprio nome, esse recurso não deve ser utilizado para despesas não-emergenciais. Quando surge uma oportunidade que requer o levantamento de uma grande quantia de dinheiro em pouco tempo, o indivíduo deve recorrer a outra fonte de recursos — e é aí que se encaixa a reserva de oportunidade.
E engana-se quem pensa que o montante é interessante apenas para investidores e pessoas de grande poder aquisitivo. A reserva de oportunidade também vem a calhar em situações mais corriqueiras, como a troca de um carro que vive dando problema, a compra daquele pacote com desconto, para a viagem dos sonhos, ou até para aproveitar uma promoção para um upgrade nos equipamentos de trabalho, por exemplo.
Como montar as reservas?
Se o conceito da reserva de oportunidade faz sentido para você, saiba que antes de começar a separar dinheiro para promoções ou investimentos futuros, a prioridade deve ser constituir a fatia destinada a emergências.
De acordo com o especialista, o montante necessário varia de acordo com o estilo de vida de cada um. Para calculá-lo, a dica é conhecer quais são os custos que consomem o seu salário.
“Pegue os últimos três meses da sua vida e comece a colocar no papel todos os custos. Observe o que é essencial e categorize as despesas entre fixas e variáveis para entender como funciona seu orçamento”, indica Ferraz.
Quanto e onde reservar o dinheiro?
Após descobrir quanto você precisa para viver todos os meses, multiplique o valor por um período de tempo, idealmente igual ou superior a seis meses, e comece a separar os recursos.
“Não adianta guardar no colchão, tem que ter um lugar adequado para reservar esse dinheiro”, ressalta Ferraz, que complementa apontando que as aplicações escolhidas têm que ter liquidez alta. Ou seja, que possam ser convertidas rapidamente em dinheiro para as necessidades.
Com a reserva de emergência devidamente constituída, o investidor pode partir para a oportunidade. Contudo, conforme indica o especialista, não existe limite para encher o pote: “Como o padrão de vida das pessoas está sempre em evolução, assim como os preços dos produtos e serviços consumidos, o dinheiro para imprevistos deve continuar crescendo na mesma proporção”.
Esse é o momento certo para usar?
Como os investimentos e aquisições variam de acordo com o perfil de risco dos indivíduos, seus sonhos e planos para o futuro, não existe uma “receita de bolo” para definir quando e onde a reserva de oportunidade deve ser utilizada.
Porém, Ferraz conta que alguns parâmetros podem ajudar na hora da decisão. Seja para comprar ações ou bens, o momento é vantajoso sempre que os benefícios — ou rendimentos, no caso dos investimentos — superam os ganhos que aquele valor ofereceria caso fosse mantido em outras aplicações.