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Royalties musicais: investimento permite ganhos através da reprodução de músicas

Considerado um investimento alternativo, modalidade cresceu no Brasil em 2020 em meio à pandemia e a falta de shows e apresentações dos artistas

- Alphacolor/Unsplash
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Você já imaginou ganhar dinheiro sempre que alguém der play na música de seu artista predileto? Isso pode até parecer um sonho, mas não é, e passou a ser possível no Brasil a partir do ano passado. Esse modelo de negócio atrai quem está em busca de investimentos alternativos – aqueles que estão foram do radar do mercado financeiro e não são oferecidos por bancos ou corretoras, como Private Equity, Fundos Hedge, Venture Capital, Ativos Reais e Colecionáveis – e, principalmente, para aqueles que buscam diversificar suas aplicações.

Além disso, esse investimento também se tornou uma alternativa para a classe artística garantir sua renda durante a pandemia de COVID-19, uma vez que os shows, gravações e apresentações foram cancelados. Com o surgimento dos serviços de streaming, como Netflix e Spotify, o consumo pela música teve um boom nos últimos anos. Diante disso, os royalties musicais se tornaram uma excelente opção de investimento.

“O investimento em royalties musicais é indicado para todas as pessoas, principalmente para os investidores que desejam ter um portfólio equilibrado. O valor do investimento depende do volume anual dos royalties e da depreciação/valorização encontrada no catálogo.  Se tiver um alto rendimento anual, com músicas que estão valorizando, o investimento é alto.  Se for um catálogo com baixo rendimento, que está em depreciação, o investimento é menor”, afirma João Luccas Caracas, CEO da gestora musical Adaggio, que já investiu R$ 30 milhões na aquisição parcial ou total das obras de 31 artistas.

Essa modalidade de investimento começou a ganhar espaço no Brasil recentemente, após a criação das primeiras plataformas de crowdfunding e da regulação pela CVM (Comissão de Valores Mobiliários). A primeira empresa a disponibilizar o serviço foi a Hurts Capital – fintech fundada em 2017 por profissionais vindos do mercado financeiro. Desde então, a procura pelos royalties musicais só aumentou.

Até julho deste ano, a Hurts já havia captado cerca de R$ 10 milhões em 28 operações de música envolvendo artistas de diferentes ritmos musicais, como Paulo Ricardo com a música ‘Vida Real’ – clássico do RPM que é o tema de abertura do programa Big Brother Brasil (BBB) desde a primeira edição –, ‘Downtown’ da Anitta, ‘Parado no Bailão’ do MC Gury e MC L da Vinte e até canções interpretadas pela banda Calcinha Preta como ‘Manchete’, ‘Mágica’ e ‘Cobertor’.

O número reforça como as plataformas digitais mudaram a maneira de se fazer dinheiro através da música. Segundo uma previsão da Goldman Sachs – grupo financeiro multinacional –, a receita total de streaming pode chegar a mais de US$ 37 bilhões até 2030, com mais de 1,1 bilhão de usuários.

Como funciona esse investimento?

Toda empresa que realiza esse tipo de operação possui um catálogo de canções. Ao escolher a música, o investidor paga um valor e em troca o artista cede o direito de receber os royalties toda vez que o som for reproduzido – seja em show, apresentações na TV, no rádio ou em plataformas de streaming. A transação é feita através da venda de Cédulas de Crédito Bancário (CCB) vinculadas aos investimentos alternativos.

“Quem vende são os detentores do direito.  Pode ser o compositor (autoral), o artista (conexo) ou produtor (conexo).  Pode também ser uma editora ou gravadora (direito patrimonial & masters)”, explica Caracas.

Após isso, o Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (ECAD) repassa o valor para a companhia e aos investidores, que se tornam os verdadeiros proprietários intelectuais das obras durante até três anos (36 meses). Na Hurts, o valor mínimo necessário para começar a investir em royalties musicais é de R$ 10 mil. É cobrado 5% da taxa de originação e outros 2% de taxas legais.

Caracas afirma que “o principal fator positivo de se investir em royalties musicais é o fato dele ser um investimento totalmente descorrelacionado à bolsa de valores e a taxas, como a Selic, fazendo total sentido dentro de um portfólio diversificado”.

“Na Adaggio, temos estratégias que impulsionam os rendimentos das músicas em todas as fontes de renda. A operação da aquisição é basicamente uma antecipação de recebíveis.  Trazemos uma liquidez imediata para o compositor/artista/produtor, e, após colocar essas músicas na Adaggio, nós trabalhamos o catálogo ativamente através de uma gestão contemporânea”, acrescenta.

Retornos

Nesse tipo de investimento, o retorno ocorre mensalmente e depende exclusivamente do número de reproduções da música durante o tempo em que o investidor detém os royalties. Basicamente, quanto mais for ouvida, maior será o valor. De acordo com a Hurts, a operação tem um retorno esperado de 15% ao ano, podendo ficar em 10,73% ao ano em um cenário pessimista.

No entanto, como todo tipo de investimento, também há riscos. As obras “adquiridas” podem parar de fazer sucesso e, consequentemente, serem menos procuradas e reproduzidas, desvalorizando esses royalties. Fora isso, a pirataria também é um fator que afeta a modalidade, uma vez que pode reduzir as receitas e trazer alterações nas taxas quando os royalties forem distribuídos.

Direitos autorais como investimento

Os direitos autorais passaram a ser alvos de investimentos no mundo musical, em especial no segmento do sertanejo. Sorocaba, da dupla Fernando e Sorocaba, liderou por três anos (2011, 2012 e 2015) a lista de arrecadação de direitos autorais em shows no Brasil, segundo dados do Ecad.

O sertanejo deixou para trás grandes nomes da música, como Roberto Carlos, Dave Grohl, Marcelo Camelo, Erasmo Carlos, Lulu Santos e Caetano Veloso.

Sorocaba compõe desde os 13 anos de idade e tem no currículo mais de 250 músicas. O músico também tem grandes hits na voz de outros artistas, como ‘Meteoro’ e ‘Um beijo’, de Luan Santana; ‘Pisa que Eu Gamo’ e ‘Livros e Barraco’, da dupla Thaeme e Thiago, além de ‘Do Tamanho do Nosso Amor’, de Chitãozinho e Xororó.

O cantor é considerado um dos pioneiros na exploração dos direitos autorais no universo da música brasileira. Segundo ele, é possível viver somente disso. “Tem compositores que vivem bem, só de direitos autorais. Uma música que emplaca, se ele fizer sozinho, é um golaço. Pode render 1 milhão de reais”, disse Sorocaba no programa ‘Conversa com Bial’, da Globo, em 2017.

Publicada originalmente em dezembro de 2021