De olho no cartão de crédito

Educação financeira na sociedade do consumo: como equilibrar estes dois pesos na balança?

O prazer imediato de fazer compras pode ser uma armadilha para os seus objetivos de longo prazo

Especialista em planejamento financeiro destaca pilares fundamentais para não cair em "armadilhas emocionais" na hora de fazer compras
Especialista em planejamento financeiro destaca pilares fundamentais para não cair em "armadilhas emocionais" na hora de fazer compras | Crédito: Getty Images/iStockphoto

Assim como comer um docinho após o almoço, fazer compras também pode nos trazer uma sensação de prazer imediato. Seja quando vamos ao shopping ou quando abrimos a nossa loja online preferida, a sensação de encher o “carrinho” é deliciosa. No entanto, este momento passageiro pode se tornar um problema no longo prazo. 

Um estudo realizado em 2023 pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil), revelou que 55% dos consumidores entrevistados não fazem controle dos gastos mensais com cartão de crédito

Os produtos e serviços mais comprados pelo cartão de crédito são: roupas, calçados e acessórios (58%), remédios (47%), supermercado (44%) e eletrodomésticos (43%).

Júlia Lázaro, especialista em Planejamento Financeiro, explica que o consumidor deve estabelecer uma meta com seu cartão de crédito e fazer o máximo para ficar dentro do valor estipulado da fatura. 

Por exemplo, se a meta é gastar até R$ 2.500,00 no cartão de crédito no mês e houver uma compra que vai ultrapassar este valor, a especialista indica parcelar a compra ou até mesmo esperar a data de virada da fatura atual. 

Consumo é diferente de consumismo

Para Bianca Dramali, professora de gestão da experiência do consumidor da ESPM, é preciso diferenciar consumo de consumismo

“O consumo é algo inerente ao ser humano, faz parte da nossa constituição. O que a gente chama de consumismo é o que a nossa sociedade identifica que ultrapassou os limites da normalidade”, explica. 

Neste sentido, a professora complementa que o consumismo será identificado também a partir de recortes de classe e de região. Dramali ressalta que a felicidade gerada ao fazer compras está atrelada à sensação de pertencimento

“Nós vivemos um fenômeno que é a centralidade do consumo na nossa sociedade […] o consumo é um formador de identidade, quem não quer se sentir pertencente?”, questiona.

Meu consumo passou dos limites? Como identificar?

O consumo nunca poderá ser completamente evitado. Para a professora da ESPM, deixar de consumir seria como deixar de fazer parte da sociedade. 

Dramali identifica que um dos principais fatores que revela o consumismo é quando as compras se tornam prejudiciais às suas despesas mensais

Se você prioriza compras supérfluas e se “aperta” para pagar contas básicas como luz e água, este pode ser um sinal claro de consumismo. 

Além disso, outro indicativo é a compra de itens em grande quantidade, como blusinhas ou sapatos, que muitas vezes ficarão parados no armário. E, se este consumo se tornou consumismo, a professora observa que é necessário buscar ajuda psicológica. 

“A terapia pode ser um caminho. Talvez sozinho você não consiga sair. Assim como na questão alimentar, o tabagismo e outras compulsões que existem, é preciso autoconhecimento para encontrar o equilíbrio”, pontua. 

Como reeducar minhas finanças? 

Júlia Lázaro explica que existem pilares fundamentais para o consumidor conseguir reeducar as suas finanças. “Esses pilares podem te trazer boas jornadas e minimizar essas quedas nas armadilhas emocionais”, afirma. 

A disciplina é o primeiro passo para começar. “A disciplina envolve você traçar objetivos, colocar metas e acompanhar estas metas e pode ser que você comenta deslizes, mas de alguma forma você vai ajustando a sua rota até chegar ao seu objetivo”, explica. 

Outro tópico importante para Lázaro é o objetivo financeiro, que pode ser feito a cada ano ou a cada trimestre, por exemplo. 

Para a planejadora financeira, os passos não devem ser radicais, como todo processo de reeducação comportamental. “Se você estava acostumado a pedir delivery toda sexta-feira, você pode tentar iniciar seu plano pedindo delivery a cada 15 dias, por exemplo”, pontua. 

Assim, ela explica que cortar gastos desnecessários pode te ajudar a economizar uma quantia e usufruir disso no longo prazo. 

“Se você pegar as questões técnicas, o que mais joga a seu favor em um investimento é o tempo. É a tua capacidade de guardar pequenas quantias ou grandes quantias, mas na realidade brasileira geralmente são pequenas quantias no longo prazo. Você tem que ter esse entendimento que não é um prazer imediato”, observa.