Termina na próxima terça-feira o período de reserva de ações na Oferta Pública Inicial (IPO, da sigla em inglês) do Enjoei, marketplace de compra e venda de roupas e acessórios usados. A casa da análises Suno Research, em relatório divulgado nesta semana, avaliou a operação e não recomenda a participação de investidores.
Para o IPO, que pode arrecadar cerca de R$ 514 milhões apenas com as ações primárias, a faixa indicativa de preços está entre R$ 10,25 e R$13,75. Esse intervalo, aliás, é um dos principais fatores de risco apontados pela Suno. “O preço-alvo que estimamos, de R$ 7,13, está bem abaixo do preço mínimo da faixa indicativa da oferta. Mesmo utilizando premissas otimistas, a companhia está longe de dar upside”.
O termo upside é utilizado no mundo dos investimentos para caracterizar o potencial de valorização que um ativo possui. Papéis negociados abaixo do que valem representam boas oportunidades ao investidor. Para a Suno, esse não é o caso das ações do marketplace.
Oferta arriscada
Apesar de reconhecer que o Enjoei foi responsável pela popularização e modernização do brechó online, a casa de análises indica uma série de pontos de atenção na empresa. A geração de caixa e lucro operacional, por exemplo, não passaram para o campo positivo entre os anos de 2017 e 2019.
Nesses três anos, as despesas publicitárias aumentaram quase 300%. Também cresceram os gastos com frete e transporte em cerca de 50% e as taxas de transação em 23%. A receita, no entanto, não acompanhou os outros indicadores e subiu apenas 60% no período.
O relatório aponta que em 2018 foram gastos R$ 1,33 em Marketing e Comunicação para cada R$ 1 gerado em receita incremental. Em 2019, o indicador foi de R$ 1,13. Segundo a Suno, por meio desses números não é possível concluir se a “recorrência dos usuários é capaz de remunerar de forma satisfatória todos os gastos despendidos para capturar e manter esta base cativa”.
Comissões desagradam usuários
Outro fator de risco da operação é o futuro estabelecimento da concorrência no mercado. Atualmente, o Enjoei trabalha com taxas de comissão sobre as vendas dos usuários que giram em torno de 34% — podendo chegar em até 50%, de acordo com o preço dos produtos e da modalidade de venda escolhida.
O percentual perdido é um das reclamações de quem usa o marketplace para negociar seus produtos. A entrada e crescimento de outras plataformas que dispõem de mais capital e infraestrutura, como o Instagram, no nicho de artigos usados pode derrubar as taxas e tornar ainda menores as receitas do Enjoei.