São passados os tempos em que investir no exterior era tabu. Aplicar parte da carteira em ativos lá fora pode ser interessante para proteger seu dinheiro das crises aqui no Brasil. E também mais uma opção na busca por rentabilidade no cenário atual de juros baixos, tendo acesso a setores e ativos diferentes daqueles oferecidos por aqui. Para se ter ideia, a bolsa brasileira representa 1% de todo o mercado global.
Como todos os investimentos, fazer aplicações financeiras em ativos de outros países exige planejamento, pesquisa, um pouco de conhecimento do mercado – e claro, saber meios para aplicar esse dinheiro. Dentro do Brasil, existem fundos que permitem investir lá fora sem tirar o dinheiro do país, o que evita algumas burocracias – mas limita as opções de investimentos.
E como investir no exterior, mas mantendo seu dinheiro no Brasil? Nesta SpaceDica, conheça os fundos que permitem investir lá fora sem ultrapassar fronteiras.
Fundos de investimento com ativos do exterior
Como define o gestor da Vitreo Investimentos, Rodrigo Knuden, essa é a maneira mais simples de investir no exterior mantendo seu dinheiro no Brasil. Fundos de investimento são carteiras de ativos, administradas por gestores, das quais você pode comprar cotas e lucrar com sua valorização.
Há fundos de investimento no exterior indicados para diferentes perfis. Se você é um investidor qualificado, com mais de R$ 1 milhão em recursos financeiros, pode aplicar em fundos com exposição 100% em ativos estrangeiros. Mas para os demais investidores há um limite de até 20% dos ativos do fundo podendo ser de fora do Brasil.
Para ter acesso a esses fundos, é necessário, antes, contratar uma corretora. Knuden aconselha a ficar de olho se o fundo faz, ou não, “hedge” de câmbio. Uma aplicação “hedgeada” é aquela que não se expõe à variação do dólar porque tira o efeito cambial.
“Na não-hedgeada, o resultado em reais é o quanto o fundo sobe mais quanto o dólar valorizou frente ao real”. Isso varia de gestora para gestora, então o investidor que pretende se expor à moeda americana deve observar esse detalhe.
A tributação segue o mesmo padrão de qualquer fundo, não importando se os ativos são estrangeiros ou brasileiros. No caso de fundos de ação, incidem como tributos 15% sobre os ganhos, sem “come-cotas”. Fundos multimercados seguem a alíquota progressiva, que começa em 27,5% sobre os ganhos e cai para 15% após dois anos, com “come-cotas” semestrais.
ETFs, Exchange Traded Funds
ETFs são pacotes de ativos com intenção de replicar a carteira de determinado índice. Essas aplicações são negociadas no mercado de ações da bolsa de valores e também funcionam com a compra de cotas. São indicados para todo tipo de investidor, incluindo pequenos e médios.
No Brasil, existem apenas dois ETFs que replicam índices de fora: o It Now e o iShare. Eles são negociados na B3 e replicam o S&P 500, de Nova York. A tributação é de 15% sobre os ganhos no imposto de renda, mas sem a isenção para investimentos inferiores a R$ 20 mil reais.
Para o gestor da Vitreo, a baixa diversificação de ETFs do gênero no Brasil é a principal desvantagem dessa modalidade de investimento em ativos estrangeiros. Uma alternativa ao investidor é possuir uma conta lá fora, onde há ETFs que replicam índices do mundo todo, metais, e “de tudo que se possa imaginar”, destaca Knuden.
BDRs, Brazilian Depositary Receipts
O nome pode lembrar as ADRs, ações de empresas brasileiras negociadas em Nova York. Mas na prática os BDRs são bem diferentes, pois representam recibos de ações, e não propriamente ativos das empresas estrangeiras. Knuden, da Vitreo, destaca que esse tipo de investimento no Brasil é resumido a investidores qualificados, por sua liquidez e complexidade.
William Castro Alves, estrategista-chefe da Avenue Securities, explica que esses recibos representam ações de grandes empresas, com adaptações nos preços. “É um papel que replica a oscilação da companhia mais o câmbio”. Geralmente os títulos são emitidos por bancos, então existem custos adicionais.
“BDRs fatiam a ação pra criar um título possível de vender e negociar em valores menores, mais ‘normais’ para a pessoa negociar”, resume. “Não é exatamente cambiado, tem adaptação do valor.”
Então, ao comprar uma BDR da Google, por exemplo, não significa que se está comprando um ativo da gigante da tecnologia, com seu preço não sendo o mesmo da ação negociada nos Estados Unidos. Inclusive, essa modalidade tem menor liquidez, e por isso é restringida a “alguns poucos CPFs da B3”, diz Castro Alves.
COE, Certificados de Operações Estruturadas
COEs são certificados emitidos por bancos e baseados em cenário de ganhos e perdas. “O banco monta operação com regras próprias sobre um índice ou algumas ações”, explica Rodrigo Knuden, da Vitreo. Eles misturam renda fixa e variável, com ativos que pagam juros e se utilizam de derivativos.
Leia mais: um guia completo sobre COEs
Ele exemplifica: “o banco promete pagar até 20% a mais do valor investido se o S&P 500 subir a mesma porcentagem ou acima disso. Se desvalorizar, você não perderá nada”. Nesse exemplo, o COE estará atrelado ao índice americano e sua variação dependerá das oscilações lá fora.
Os COEs apresentam taxa de administração e tributação regressiva no imposto de renda, que varia de 22,5% até 15%. Assim como os BDRs, o gestor recomenda COEs para investidores com alto conhecimento de mercado, com capacidade para calcular os rendimentos prometidos pela instituição financeira.
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